PROCESSOS DE ALFABETIZAÇÃO MATEMÁTICA: UM OLHAR A PARTIR DA COLONIALIDADE
Resumo
Neste espaço, buscamos apresentar uma pesquisa de doutorado, ainda em fase inicial de desenvolvimento, que está sendo realizada no Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. A proposta é desenvolver uma pesquisa com pessoas analfabetas que buscam a etapa de alfabetização pela modalidade de ensino de Educação de Jovens e Adultos (EJA) em uma escola da rede municipal de ensino de Campo Grande/MS. Nesse sentido, pretendemos investigar quais problemáticas surgem no processo de alfabetização de pessoas analfabetas na EJA. Quais tensões surgem dessa relação? Quais subversões? Como operam as relações com a matemática nesse espaço? É importante destacar que não pretendemos produzir um trabalho sobre a modalidade EJA, mas sobre como operam as relações de pessoas analfabetas em um espaço formal de ensino de matemática. Os estudos envolvendo os conceitos colonialidade/descolonialidade (MIGNOLO, 2017a, 2017b; QUIJANO, 2000; SILVA, 2013; GROSFOGUEL, 2009; MALDONADO-TORRES, 2007) tem nos ajudado a pensar sobre a condição de subalternidade ocupada pelas pessoas analfabetas na sociedade, enquanto um desvio em um mundo que assume outro tipo de normalidade. Sabemos que a norma é ser alfabetizado, e que em nosso país existe a preocupação com a superação do analfabetismo, manifestada através de políticas públicas, dentre elas, a oferta da alfabetização pela modalidade EJA. A escolarização, sem dúvidas, abre outras possibilidades de dialogar nesse mundo, mas também gostaríamos de chamar atenção para essa lógica que opera de forma a constituir o mundo enquanto uma rede discursiva que exclui possibilidades de ser e estar nele, e uma delas é o analfabetismo, que podemos entender como a negação de um modo de estar no mundo. O que leva pessoas analfabetas a buscarem um curso de alfabetização? O que se pretende conquistar? Ainda, nos interessa saber como são tratados os conhecimentos das pessoas analfabetas dentro da dinâmica de aula criada no espaço da aula de matemática. A pesquisa está em fase inicial, e embora estejamos nos apoiando nessas teorizações, também estamos abertos a outras possibilidades de diálogo que nos ajudem a pensar nossa investigação. Para a realização da pesquisa, a intenção é acompanhar algumas turmas que estejam iniciando a etapa de alfabetização, por meio da observação das aulas e, com isso, investigar a dinâmica construída nesse ambiente, com atenção às problemáticas que se dão por meio das relações entre os alunos, professor-aluno e aluno-aula de matemática. Além disso, pretendemos realizar entrevistas com alguns alunos, a fim de conhecer um pouco da rotina de cada um, os conhecimentos produzidos por eles e mobilizados em seu dia-a-dia, bem como os motivos que os levaram ao afastamento e à procura pela alfabetização. Acreditamos que essa pesquisa possa colaborar com o movimento que se propõe a pensar a colonialidade/descolonialidade no contexto da Educação Matemática, bem como promover reflexões sobre nossas próprias posturas – por vezes colonizadoras – enquanto professores e pesquisadores.
Publicado
2019-09-15
Seção
Trabalhos na Modalidade Pôster - XV SESEMAT - 2021