ENTRE O PRESENTE E O INADIÁVEL: considerações sobre o pensamento de Silviano Santiago
Resumo
Palavras como as da epígrafe acima são estimulantes, ao se abordar o discurso poético-crítico de Silviano Santiago em seu percurso no pensamento contemporâneo. Elas sugerem que não se trata de acrescentar, ao texto lido, o do intérprete que o “explicasse”. Trata-se, em lugar disso, de captar o convite (no caso presente, vindo do texto de Silviano) para participar de uma inscrição inesgotável, articulando o próprio trabalho a jogos interpretativos infindáveis, sem a tentação de estabelecer, ou de aceitar, linhas divisórias, excludentes, a separar drasticamente um mesmo e um outro discursos. Assim se tranquiliza (ou perturba?) o leitor/intérprete, na medida em que elabora um texto-de-leitura a desdobrar-se a partir de um texto original – o qual, por sua vez, sobrepõe-se a outros textos que já o contaminavam, abarcando-se potencialmente, dessa forma, toda a cadeia textual. O texto avançado a posteriori tem o seu conteúdo pré-determinado por aquele que analisa – nessa leitura do patente e do latente, a desvelar “o que tinha sido recalcado em silêncio e espaço-branco pela escritura e que só agora pode ser revelado neste texto posterior.” (S.S., 1976, p.28).[1]
[1] As referências a textos de Silviano Santiago são indicadas, neste artigo, pelas iniciais S.S.
Referências
ANDRADE, Oswald de. Manifesto antropófago. In: Obras completas VI - Do pau-Brasil à antropofagia e às utopias. R.J.: Civilização Brasileira, 1972.
_____. Sol da meia-noite. In: Ponta de lança. S.P.: Globo, 1991.
BHABHA, Homi (ed). Introduction: narrating the nation. In: Nation and narration. London & New York: Routledge, 1990.
CAMINHA, Pero Vaz de. A Carta de Pero Vaz de Caminha. Lima, Alceu Amoroso; Corrêa, Roberto Alvim; Sena, Jorge de (dir.). R.J., Agir, 1965.
_____. Carta de Pero Vaz de Caminha a El-rei D. Manuel sobre o achamento do Brasil. S.P.: Martin Claret, 2011.
DERRIDA, Jacques. A estrutura, o signo e o jogo no discurso das ciências humanas. In: A escritura e a diferença. S.P.: Perspectiva, 1971. Trad. M.B. Nizza da Silva.
FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. Petrópolis: Vozes, 1972. Trad. L.F.Baeta Neves.
_____. Nietzsche, Freud & Marx. S.P.: Editora Princípio, 1987. Trad.Jorge L. Barreto.
GOMES, Heloisa Toller. As marcas da escravidão. O negro e o discurso oitocentista no Brasil e nos Estados Unidos. R.J.: EdUerj, 2009 (2ª. ed.).
O poder rural na ficção. S.P.: Ática, 1981.
_____. Quando os outros somos nós: o lugar da crítica pós-colonial na universidade brasileira. In: Acta Scientiarum: Human and Social Sciences. Paraná: Editora da Universidade Estadual de Maringá. Vol 29. n.2, 2007.
LIMA BARRETO, Afonso. Triste fim de Policarpo Quaresma. S.P.: Brasiliense, 1969.
REVEL, Judith. Dictionnaire Foucault. Paris: Ellipses, 2008.
SANTIAGO, Silviano. As raízes e o labirinto da América Latina. R.J.: Rocco, 2006.
_____. O cosmopolitismo do pobre. Crítica literária e crítica cultural. B.H.:Ed. UFMG, 2004.
_____. Nas malhas da letra. S.P.: Companhia das Letras, 1989.
_____. Vale quanto pesa (ensaios sobre questões político-culturais). R.J.: Paz e Terra, 1982.
_____. Uma literatura nos trópicos. S.P.: Perspectiva, 1978.
_____. Carlos Drummond de Andrade. Petrópolis: Vozes, 1976.
_____. A palavra de Deus. B.H.: Barroco n.3, 1971.
_____. Glossário de Derrida (supervisão Silviano Santiago). R.J.: Francisco Alves, 1976.
SOUZA, Eneida Maria de; MIRANDA, Wander Melo (org). Navegar é preciso, viver: Escritos para Silviano Santiago. B. H.: Ed. UFMG; Salvador: EDUFBA; Niterói: EDUFF, 1997.
VIEIRA, Padre Antônio. Sermão da Sexagésima. In: Vieira sermões. R.J.: Agir, 1972.

Este obra está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial 4.0 Internacional.




