SILVIANO SANTIAGO e a imaginação antropófaga
Resumen
“É preciso arrancar alegria ao futuro”. Esse verso do poema em que Maiakovski se despede do amigo suicida Sierguéi lessiênin pode ser considerado como o leit motif da obra de Silviano Santiago. Podemos encontrá-lo citado pelo autor no artigo “O Ateneu: Contradições e perquirições”, escrito em 1968 e publicado em Uma literatura nos trópicos (Santiago, 1978: 67-100), e, mais recentemente, na coluna intitulada “Revoada de vaga-lumes”, publicada no jornal O Estado de S. Paulo, que tem como tema o livro A sobrevivência dos vaga-lumes, de Didi-Huberman (Santiago, 2011a). A inspiração nietzschiana implícita nesse verso acompanha toda a produção literária e crítica do autor e é, ao mesmo tempo, o elo de ligação entre ele e a geração dos escritores modernistas, aos quais o crítico sempre volta quando se trata de analisar as relações estabelecidas entre a cultura brasileira e a estrangeira. Nessas análises, a antropofagia ocupa lugar de destaque, desde o seu célebre artigo “O entrelugar no discurso latino-americano”, de 1971. Como se sabe, nesse antológico ensaio, Santiago propõe uma subversão da hierarquia entre colonizador e colonizado, entre original e cópia, e, exercitando a “imaginação do paradoxo” (Santiago, 1982:194) que caracteriza seu trabalho, expõe uma visão que em muito se aproxima da proposta modernista, na medida em que valoriza na América Latina a criação de um espaço intervalar em que o processo de apropriação da cultura ocidental ocorre em perspectiva diferencial e o estilhaçamento dos conceitos de “unidade” e de “pureza” (Santiago, 1978:18).
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