(TRANS)BORDANDO FRONTEIRAS BIOGRÁFICAS – estética bugresca como descolonização do corpo biogeográfico para a a cena

  • Marcos Antônio Bessa-Oliveira UEMS

Resumo

“Se entendemos que a natureza é sempre filtrada pela noção de paisagem, ou seja, por uma visão histórica e cultural — Robert Smithson escreveu que a natureza era mais uma ficção dos séculos XVIII e XIX —, o corpo é sempre uma condição cultural localizada. Se um povo qualquer prossegue “na missão de redefinir a paisagem, dando volume à página” [(BRANDÃO, 2004, p. 11)] um corpo sempre vem vestido: as convenções sociais, representações narrativas e aplicabilidades políticas dão aparência epistemológica à noção de corpo. Além disso, não existe corpo sem que seja alguém, produção de uma micro-história que só é reduzida a um holótipo no contexto de uma ciência excludente (por definição, um holótipo é sempre um espécime morto, necessariamente herborizado). O corpo próprio intenciona e tensiona o corpo físico e biológico.” (MARQUEZ, 2011, p. 161)

O excerto acima, extraído do texto “Certa Geografia”, escrito como conversações entre os autores Luis Alberto Brandão e Renata Marquez[1], cuja parte foi escrita por uma geógrafa – Renata Marquez –, ilustra, se posso assim dizer, a perspectiva de corpo que proponho refletir neste trabalho. Um corpo situado biogeograficamente. Corpos biográficos que são, ao mesmo tempo, intenção e tensão com uma condição cultural localizada e em um determinado território geográfico específico reconhecido como enunciativo. Da mesma forma, quero sinalizar que a fronteira (trans)bordada por esses corpos tem caráter físico e está na ordem do real como “[...] território [que] tem densidade, espessura, não é superfície simplesmente.” (PORTO-GONÇALVES, 2011, p. 199) Portanto é diferente da ideia que se tem compreendida de fronteira fora do contexto da sua situacionalização geográfica de margem, fim de espaços ou vista como “o espaço [que] é um lugar abstrato” (RIBEIRO, 2011, p. 199).


[1] Todas as vezes que me referir em citações a este texto as referências serão feitas via MARQUEZ.

Biografia do Autor

Marcos Antônio Bessa-Oliveira, UEMS

Professor Efetivo da UEMS - Unidade Campo Grande - no Curso de Graduação em Artes Cênicas - da cadeira de Artes Visuais e Professor Permanente do PROFEDUC - Programa de Mestrado Profissional em Educação. É Artista Visual, Doutor em Artes Visuais - da linha de pesquisa Fundamentos Teóricos - pelo IA-Unicamp. Coordena o NAV(r)E - Núcleo de Artes Visuais em (re)Verificações Epistemológicas. É Mestre em Estudos de Linguagens e Graduado em Artes Visuais - Licenciatura - Habilitação em Artes Plásticas pela UFMS. Desenvolveu pesquisas com Bolsas CAPES e PIBIC/CNPq no Doutorado, Mestrado e na Graduação. Desenvolve pesquisa vinculada ao NECC-UFMS sobre a produção artística (PRÁTICA, PEDAGÓGICA E TEÓRICA) de Mato Grosso do Sul. É Editor-Assistente dos CADERNOS DE ESTUDOS CULTURAIS. É membro do Grupo de Pesquisa Estudos Visuais - IA/UNICAMP. Tem livros e diversos artigos publicados sobre Clarice Lispector - pintora/escritora e sobre a produção artístico-plástica sul-mato-grossense em nível nacional e internacional. Tem experiência na área de Fundamentação Teórica em Artes Visuais, com ênfase em Artes Plásticas, no Ensino em Artes Visuais, Poéticas Artísticas, atuando principalmente nos temas: Estudos Visuais, Crítica Biográfica Cultural, Paisagens Biográficas, Pós-Colonialismo, Estudos Culturais, Memória e Arquivo Culturais, Identidade Cultural, Pesquisas em Artes Visuais, Teorias das Artes Visuais, História da Arte, Arte e Ensino, Literatura/Pintura e Organização de Exposições.

Referências

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Publicado
2017-08-08