O SEQUESTRO DO HIBRIDISMO EM OBRAS DA LITERATURA DE PERIFERIA: “O negro não tem direito a pronunciar o clássico?”

  • Luciana Paiva Coronel Universidade Federal do Rio Grande (FURG)

Resumo

Pensar a estética periférica em suas diferentes modalidades de expressão requer antes de mais nada uma definição mais rigorosa a respeito do termo, pois se a noção de “periferia” remete irremediavelmente a de “centro”, ambos os termos parecem um tanto imprecisos, mesmo quando tomados em conjunto. Em um primeiro sentido geográfico, o termo designa os espaços que estão distantes do centro e fora da área urbanizada das grandes cidades contemporâneas. Ocorre que esses espaços apresentam geralmente péssimas condições de habitação, o que acaba agregando um sentido social não apenas à zona periférica, como ainda aos seus habitantes. Nabil Bonduki e Raquel Rolnik, urbanistas estudiosos da dinâmica urbana, vinculam a ocupação do território à estratificação social, definindo periferia como sendo “as parcelas do território da cidade que têm baixa renda diferencial.” (1979, p. 147). 

Biografia do Autor

Luciana Paiva Coronel, Universidade Federal do Rio Grande (FURG)

Doutora em Literatura Brasileira pela Universidade de São Paulo (2004), pós-doutora junto à Università degli Studi di Genova (Itália), com a supervisão de Roberto Francavilla (bolsista CAPES). É professora da área de Literatura Brasileira e do Programa de História da Literatura da Universidade Federal do Rio Grande. Tem experiência nas áreas de História e Letras, atuando principalmente nos seguintes temas: literatura brasileira contemporânea, literatura de periferia, vozes marginais, escritos do cárcere.

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Publicado
2017-08-08