ALÉM DA PÓS-COLONIALIDADE: a sociologia periférica e a crítica ao eurocentrismo

  • João Marcelo Ehlert Maia FGV

Resumo

bem conhecida a entrevista do filósofo alemão Jürgen Habermas concedida à prestigiosa revista inglesa “New Left Review”, na qual, perguntando por Perry Anderson e Peter Dews sobre o que sua teoria tinha a acrescentar aos povos que lutavam pela libertação no Terceiro Mundo, respondeu que preferia “passar” a questão (Habermas; Dews, 1986). A despeito desta sincera e até corajosa resposta, isso não impediu Habermas de continuar sendo lido, estudado, pesquisado e tomado como referência obrigatória por sociólogos no Brasil, na Argentina, na África do Sul, no México e em outros quadrantes do antigo Terceiro Mundo, hoje usualmente classificado como “Sul Global”. Este pequeno caso ilustra perfeitamente um dos grandes entraves à construção de uma sociologia realmente global no mundo contemporâneo: trata-se do bom e velho eurocentrismo, que a despeito de ser apontado e criticado, continua a dar as cartas nas construções teóricas, nas formulações de conceitos e nos indicadores simbólicos de prestígio intelectual nas ciências humanas em geral.

Biografia do Autor

João Marcelo Ehlert Maia, FGV
É mestre em Sociologia pela Sociedade Brasileira de Instrução - SBI/IUPERJ (2001) e doutor em Sociologia pela Sociedade Brasileira de Instrução - SBI/IUPERJ (2006). Atualmente é professor adjunto do CPDOC/FGV-RJ. Já foi professor substituto da Universidade Federal Fluminense e professor auxiliar da PUC-RJ. Tem experiência na área de Sociologia, com ênfase em Sociologia da Cultura, atuando principalmente nos seguintes temas: intelectuais, pensamento social brasileiro e história das ciências sociais. Mais recentemente, tem explorado o campo da teoria social em contextos periféricos (pós-colonialismo, decolonialidade e pensamento social periférico). Faz parte de dois grupos de pesquisa reconhecidos pelo CNPq: Epistemologias Fronteiriças e Conexões Sul-Sul (sediado na UNB) e Intelectuais e Poder no mundo Ibero-Americano (sediado na UERJ). É também membro do grupo de trabalho em História da Sociologia da ISA (Research Committe on the History of Sociology), e atualmente exerce a função de secretário do grupo. Finalmente, em 2016 foi contemplado com o edital Jovem Cientista de Nosso Estado (FAPERJ)

Referências

AKIWOWO, Akinsola. Contributions to the sociology of knowledge from an African oral poetry. International Sociology. 1, pp. 345-358, 1986

ALATAS, Said Farid. A definição e os tipos de discursos alternativos. Estudos Históricos. Rio de Janeiro, v. 23, n.46, pp. 225-245, 2010.

______. Alternative discourses in Asian social science: responses to Eurocentrism. New Dheli: Sage, 2006

ALATAS, Said Farid; SINHA, Vineeta. Teaching Classical Sociological Theory in Singapore: The Context of Eurocentrism. Teaching Sociology. Vol. 29, n.3, pp.316-331, 2001.

BEIGEL, Fernanda. Autonomia y dependência acadêmica. Universidad e investigación científica en um circuito periférico. Buenos Aires: Biblos, 2010.

BHAMBRA, Gurminder. Rethinking modernity: Postcolonialism and the sociological imagination. Pallgrave Macmillan, 2009.

BRASIL JUNIOR, Antônio S. Passagens para a teoria sociológica: Florestan Fernandes e Gino Germani. Tese de doutoramento. Rio de Janeiro, Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia da UFRJ, 2011.

CASANOVA, Pablo González. Sociedad Plural, Colonialismo Interno y Desarrollo. América Latina. Vol. 6 (3), p. 15-32, 1963.

CHAKRABARTY, Dipesh. Habitations of Modernity: essays in the wake of subaltern studies. Chicago, Chicago University Press, 2002.

CONNELL, Raewyn. A Iminente Revolução na Teoria Social. Revista Brasileira de Ciências Sociais. Vol.27, n.80, pp. 09-20, 2012.

Cadernos de estudos culturais, Campo Grande, MS, v. 5, p. 103-116, jan./jun. 2013.

______Southern Theory: the global dynamics of knowledge in social science. London: Polity Press, 2007

COSTA, Sérgio; BOATCÃ, Manuela; RODRIGUEZ, Encarnación-Gutiérrez (orgs). Decolonizing European Sociology: Transdisciplinary Approaches. Burlington, Farnahm: Ashgate, 2010.

_________. Postcolonial Sociology: A Research Agenda. In M. Boatcã, S. Costa e E.G. Rodriguez (orgs). Decolonizing European Sociology: Transdisciplinary Approaches. Burlington, Farnahm: Ashgate, 2010.

COSTA, Sério. Desprovincializando a sociologia: a contribuição pós-colonial. Revista Brasileira de Ciências Sociais. Vol.21, n.60, pp. 117-183, 2006

DIRLIK, Arif. The postcolonial aura: Third World Criticism in the era of Global Capitalism. Critical Inquiry. Vol. 20 (2), p. 328-356, 1994.

DOMINGUES, José M. Global modernization, coloniality and a critical sociology for contemporary Latin America. Theory, Culture and Society. Vol.26, n.1, pp. 112-133, 2009.

DOS SANTOS, Theotônio. La teoría de la dependencia: Balance y perspectivas. Buenos Aires: Plaza & Janes, 2002.

FERNANDES, Florestan. A Integração do Negro na Sociedade de Classes. São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1965. 2 vols.

HABERMAS, Jürgen; DEWS, Peter (org). Autonomy and Solidarity: Interviews with Jürgen Habermas. Londres: Verso, 1986.

KEIM, Wiebke. Por une Modèle Centre-Péripherie dans la science sociale. Aspects problematiques dês relations internationales en science sociales. Revue dês anthropologies of connaissances. vol.4, n.3, pp. 570-598, 2010.

LOVE, Joseph. A construção do Terceiro Mundo. Teorias do subdesenvolvimento na Romênia e no Brasil. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998.

MAIA, João Marcelo Ehlert. Ao sul da teoria: a atualidade teórica do pensamento social brasileiro. Sociedade e Estado. Vol.26, n.2, pp 71-94, 2011.

MCLENNAN, Gregor. Sociology, Eurocentrism and Postcolonial Theory. European Journal of Social Theory. Vol.6, n.1, pp. 69-86, 2003.

Cadernos de estudos culturais, Campo Grande, MS, v. 5, p. 103-116, jan./jun. 2013.

MCLEOD, John. Beggining Postcolonialism. Manchester, Manchester University Press, 2000.

MIGNOLO, Walter. Histórias globais – projetos locais. Colonialidade, saberes subalternos e pensamento liminar. Belo Horizonte: Ed UFMG, 2003.

________. The Darker Side of Renaissance: literacy, territoriality and colonization. Michigan, Michigan University Press, 1995.

PATEL, Sujata (org). The ISA Handbook of Diverse Sociological Traditions. London: Sage Publications, 2010.

PINHEIRO, Claudio. Direct and Indirect Transitivity. The receptions of Dependency Theory in India and Singapore and other dialogues between intellectual peripheries from the Global South. Paper apresentado no World Social Sciences and Humanities Network Meeting. Buenos Aires, 2010.

PRAKASH, Gyan. Subaltern Studies as Postcolonial Criticism. The American Historical Review. Vol.99, n.5, pp. 1475-1490, 1994.

QUAYSON, Ato. Theory, practice or process? Malden, Polity Press, 2000.

SAID, Edward. Orientalism. New York: Vintage Books, 1978.

STAVENHAGEN, Rodolfo. Las clases sociales en las sociedades agrarias. SigloVeinteuno, 1969.

_______. Siete Tesis Equivocadas sobre America Latina. Política Externa Independente. Rio de Janeiro, Vol. 1, n.1, 1965.

SUBRAHMANYAN, Sanjay. Connected Histories - Notes towards a Reconfiguration of Early Modern Eurasia. Modern Asian Studies. Vol. 31, n.3, pp. 745-762, 1997.

WALLERSTEIN, Immanuel. Para abrir as ciências sociais – Comissão Gulbenkian para a reestruturação das ciências sociais. São Paulo: Cortez, 1996.

YOUNG, Robert CJ. Postcolonialism: an historical introduction. Oxford, Wiley-Blackwell, 2001.

Publicado
2017-04-24