Eu cuido, eles me internam:
discursos sobre cuidado, saúde mental e gênero
Resumo
O artigo aborda a articulação gênero e saúde mental, de uma perspectiva interseccional, analisando o discurso em torno do cuidado entre mulheres usuárias de um Centro de Atenção Psicossocial-CAPS. Para isso, interpreta, a partir da Análise de Discurso de Michel Pêcheux, o enunciado “eu cuido, eles me internam”, produzido por uma das usuárias do serviço. A análise parafrástica e das formações discursivas aponta para duas formas de cuidado: aquele naturalizado e desempenhado cotidianamente pelas mulheres; e outro, Cuidado com letra maiúscula, que se dá em espaços institucionalizados como os serviços de saúde. Ambas as formas são feminizadas, efeito do interdiscurso que localiza o cuidado como naturalmente feminino. Contudo, o lugar da mulher que adoece, por questões de saúde mental, produz uma lacuna, uma vez que ela não tem o direito de ocupar apenas o lugar de objeto de cuidado.
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