Da transgressão à conscientização:
os sentidos no discurso verbo-visual de pichações no contexto da pandemia
Resumo
As pichações, caracterizadas como inscrições verbo-visuais em muros e paredes, de autoria frequentemente anônima, são marcas tipicamente urbanas e consideradas, por vezes, ações marginais. Porém, os enunciados que integram as pichações podem ser tomados como textos, os quais, na confluência de caracteres verbais e visuais, reverberam discursos que revelam críticas, valores e posicionamentos frente à realidade. Este trabalho, portanto, partindo dessa premissa, tem o objetivo de analisar os sentidos que emergem do discurso verbo-visual expresso em pichações com o tema “álcool gel”, situado no contexto da pandemia, capturados fotograficamente na cidade de Londrina - PR. Esses enunciados são postos em contraste com textos de natureza midiática e analisados à luz das teorias do texto/discurso, considerando-se a sua dimensão argumentativa e a sua dimensão histórico-ideológica. A partir do estabelecimento de conexões entre os “ditos”, tanto dos enunciados das pichações quanto dos enunciados midiáticos, e os “não ditos” que emergem de toda essa cadeia discursiva, as análises evidenciam que as pichações estudadas, num processo de evidente deslocamento, partem de uma posição transgressora para uma posição conscientizadora, na medida em que, em diferentes níveis, defendem a ciência que está por trás do “álcool gel” no combate à pandemia.
Referências
BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997 [1979].
BAKHTIN, M.; VOLOSHINOV, V. Marxismo e filosofia da linguagem. Trad. Michel Lahud e Yara Frateschi Vieira. São Paulo: Hucitec, 1979 [1929].
BLAZQUÉZ, N. Ética e meios de comunicação. Trad. de Rodrigo Contrera. São Paulo: Paulinas, 1999.
FIORIN, J. L. Linguagem e ideologia. São Paulo: Ática, 2000.
FIORIN, J. L. Argumentação. São Paulo: Contexto, 2018.
HOUAISS, A. Dicionário da Língua Portuguesa. Versão eletrônica. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.
KOCH, I. G. V. Argumentação e linguagem. 6. ed. São Paulo: Cortez, 2000.
KOCH, I. G. V. Introdução à Lingüística Textual. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2009.
KOCH, I. G. V. A inter-ação pela linguagem. 10. ed. São Paulo: Contexto, 2010.
LASSALA, G. Pichação não é pixação. 1. ed. São Paulo: Altamira, 2010.
MAINGUENEAU, D. Novas tendências em Análise do Discurso. 2. ed. Trad. Freda Indursky. Campinas: Pontes; Edunicamp, 1993.
MARCONDES FILHO, C. Ideologia. 9. ed. São Paulo: Global, 1997.
MÉSZÁROS, I. O poder da ideologia. Trad. Paulo Cezar Castanheira. São Paulo: Boitempo, 2004.
NASCIMENTO, L. H. P. do. Pixação, a arte por cima do muro. Cachoeira do Sul: Monstro dos Mares, 2015.
OLÉRON, P. L’argumentation. 4. ed. Paris: Presses Universitaires de France, 1996.
ORLANDI, E. P. Análise de Discurso: princípios e procedimentos. 3. ed. Campinas: Pontes, 2001.
ORLANDI, E. P. Discurso e texto: formulação e circulação de sentidos. 2. ed. Campinas: Pontes, 2005a.
ORLANDI, E. P. O sujeito discursivo contemporâneo: um exemplo. In: II SEAD - Seminário de Estudos em Análise do Discurso. Anais... Porto Alegre: UFRGS, 2005b. Disponível em: https://tinyurl.com/yf6seae5. Acesso em: 30 mar. 2022.
ORLANDI, E. P. As formas do silêncio: no movimento dos sentidos. 6. ed. Campinas: Edunicamp, 2007.
PERELMAN, C.; OLBRECHTS-TYTECA, L. Tratado de argumentação: a nova retórica. Trad. Maria Galvão G. Pereira. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
POLIZEL, A. L.; FARY, B. A.; REZZADORI, C. B. D. B. Pedagogias culturais em tempos de pandemia: educações nos muros de Londrina. Olhar de professor, Ponta Grossa, v. 24, p. 1-7, e-16067.060, 2021. Disponível em: https://tinyurl.com/yaouuzl9. Acesso em: 30 mar. 2022.
Copyright (c) 2022 Revista Primeira Escrita
![Creative Commons License](http://i.creativecommons.org/l/by-nc-nd/4.0/88x31.png)
This work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License.
a) permitem a reprodução total dos textos, desde que se mencione a fonte.
b) mantêm os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial 4.0 Internacional;
c) autorizam licenciar a obra com uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial 4.0 Internacional que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista;
d) responsabilizam-se pelas informações e pesquisas apresentadas nos textos a serem publicados na Revista Primeira Escrita, eximindo a revista de qualquer responsabilidade legal sobre as opiniões, ideias e conceitos emitidos em seus textos;
e) comprometem-se em informar sobre a originalidade do trabalho, garantindo à editora-chefe que a contribuição é original e inédita e que não está em processo de avaliação em outra(s) revista(s), quer seja no formato impresso ou no eletrônico;
f) autorizam à Revista Primeira Escrita efetuar, nos originais, alterações de ordem normativa, ortográfica e gramatical com vistas a manter o padrão normativo da língua e apresentarem o padrão de publicação científica, respeitando, contudo, o estilo dos autores e que os originais não serão devolvidos aos autores;
g) declaram que o artigo não possui conflitos de interesse.