O pioneirismo do estadunidense William Stokoe em relação aos estudos linguísticos das Línguas de Sinais, por volta da década de 1960, motivou outros linguistas a se debruçarem nesse mesmo objetivo temático em várias partes do mundo. No Brasil não foi diferente. Nas décadas seguintes, importantes nomes se dedicaram aos estudos linguísticos das Línguas de Sinais do Brasil, como Lucinda Ferreira Brito, que desde 1979 vem trabalhando com as Línguas de Sinais do Brasil, a Língua Brasileira de Sinais (Libras) e a Língua de Sinais dos indígenas surdos Urubu-Kaapor (LSKB), da Floresta Amazônica; Tanya Amara Felipe de Souza, que desde a década de 1980 vem se dedicando a importantes estudos relacionados à Libras, à Língua de Sinais dos Centros Urbanos do Brasil (LSCB) e à metodologia para o ensino e a aprendizagem da Libras como segunda Língua; seguidas de Ronice Müller de Quadros e Lodenir Becker Karnopp, com a publicação, em 2004, do livro “Língua de Sinais Brasileira: estudos linguísticos”. Algum tempo depois, em torno de 2007, novos estudiosos focaram as Línguas Indígenas de Sinais (LIS), com grande referência para Shirley Vilhalva, com sua pesquisa publicada em 2009, intitulada “Mapeamento das Línguas de Sinais Emergentes: um estudo sobre as comunidades linguísticas indígenas de Mato Grosso do Sul”. A mobilização dos surdos que sinalizam e o referido apoio científico foram significativos para o reconhecimento da legitimidade linguística das Línguas de Sinais. Eventos esses que, por sua parte, contribuíram, sobremaneira, para a deliberação de políticas públicas específicas com importantes aparatos legais - cita-se a Lei n. 10.436/2002 e o Decreto n. 5.626/2005 - e para o surgimento de novas inquietações concernentes às Línguas de Sinais e aos surdos sinalizantes. Tais inquietações emergiram em diferentes campos de estudos além das pesquisas linguísticas, como no de cunho educacional, cultural, antropológico, sociológico e em muitos outros. Ao serem elencadas propostas para os estudos linguísticos das Línguas de Sinais, inclusive as Línguas Indígenas de Sinais, e ao serem consideradas as interseccionalidades entre educação, cultura e identidades, surgem novas perspectivas e possibilidades de diálogo e de transformação social. É de suma importância que haja o reconhecimento dessas interconexões para que se promovam novas pesquisas e publicações que abranjam as diferentes formas de linguagem, incluindo línguas escritas e línguas de sinais, seja a Libras, a LIS ou outras Línguas de Sinais do país. Assim, importa que novos estudos sejam visibilizados e valorizados, independentemente da forma de comunicação ou de identidade cultural que representem. Nesse sentido, espera-se receber para a composição deste dossiê, artigos que transitem nesses espaços de interseccionalidades entre educação, cultura, identidades e as Línguas de Sinais dos surdos brasileiros e sinalizantes.

Publicado: 2024-12-20

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