“DIRETÓRIO DOS ÍNDIOS”: um discurso político de imposição linguística do século XVIII
Resumo
Este artigo analisa o Diretório dos Índios, documento publicado em 1757, por Marquês de Pombal, considerado como uma medida de institucionalização e oficialização da língua que deveria ser falada, ensinada e escrita no espaço de enunciação brasileiro. Com essa análise, almeja-se observar como o Diretório dos Índios influenciou no processo histórico de constituição da Língua Portuguesa no Brasil, atentando para a reflexão das concepções de língua e de sujeito que estão presentes nesse documento e para a forma como elas interferem no discurso em questão. Conforme pensado no discurso do colonizador ou do colonizado, o processo de colonização pela língua apresenta diferentes sentidos. O documento, ao elucidar uma noção de “civilização”, evoca, impreterivelmente, o seu oposto, o imaginário de um estágio primitivo, ainda não colonizado, que é associado aos conceitos de selvageria e barbárie do índio brasileiro. Quanto à questão da língua, o Diretório traz uma concepção de superioridade da Língua Portuguesa em relação à língua falada pelos índios, superioridade essa que faria da língua de matriz europeia o instrumento “civilizador” do povo brasileiro. Dadas as condições de produção e o espaço de enunciação do século XVIII, a análise do Diretório dos Índios permite entender o lugar político da Língua Portuguesa em um processo colonizador e as dificuldades enfrentadas, até hoje, de construção de uma identidade dos sujeitos brasileiros em relação à sua língua oficial.Referências
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