Uma análise estilística das manifestações de protesto em períodos de exceção n'Os poemas possíveis, de José Saramago
Resumo
O presente artigo visa investigar, à luz da Estilística, os recursos poético-discursivos empregados pelo autor português José Saramago em sua obra Os poemas possíveis, publicada no ano de 1966. O cerceamento das liberdades individuais costuma ser uma das estratégias de manutenção do poder nos regimes ditatoriais. Nesses governos, que veem na classe artística uma ameaça iminente, os produtores de itens culturais, sobretudo os escritores de Literatura, são firmemente censurados e oprimidos. Em Portugal, entre os anos de 1933 e 1974, Antonio de Oliveira Salazar esteve à frente de um governo que perseguiu e censurou opositores. Foi nesse período que o autor José Saramago produziu e publicou Os poemas Possíveis (1966), sua estreia na Literatura Portuguesa. Considerando essa contextualização, o presente artigo se propõe a analisar poemas da segunda parte da referida obra com o intuito de investigar, à luz da Estilística proposta por José Lemos Monteiro (2009), os recursos expressivos utilizados pelo escritor na composição de poemas que criticam e denunciam o sistema que o oprime. Apoiados também nas contribuições de Sgarbi (2013) e de Santos (2022) sobre os estudos saramaguianos, investigamos o estilo poético do autor português na incipiência de sua produção literária. A análise permitiu perceber que Saramago, nos poemas, utiliza-se de diversos desvios linguísticos para expressar seu descontentamento com o sistema ditatorial vigente. Desse modo, percebemos que as maneiras possíveis de se manifestar contra um regime que impõe um silenciamento exploram estratégias discursivas que nos possibilitaram uma visão de língua como lugar de resistência.
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