O DUPLO JOGO DE FORÇA QUE INCIDE SOBRE A MEMÓRIA DISCURSIVA

  • Rosemere de Almeida Aguero UEMS / FUNDECT
Palavras-chave: Memória discursiva. Interdiscurso. Brasiguaios

Resumo

Este estudo objetiva analisar questões relacionadas à memória discursiva e ao interdiscurso capturadas em discursividades recortadas de arquivos da mídia, cujo tema é o drama agrário vivido pelo sujeito denominado brasiguaio. As sequências discursivas (SD) recortadas são analisadas pelo viés da AD, a partir da voz teórica de Michel Pêcheux. A partir de tomadas de posição e da construção de um dispositivo de interpretação busca-se apreender marcas linguísticas e efeitos de sentido que mostram como a mídia retoma do interdiscurso e da memória histórica alguns acontecimentos do passado, discursivisando-os. As análises mostram que a repetibilidade dos segmentos e dos itens lexicais não garantem a produção do mesmo efeito de sentido. O fato de o dito pertencer à mesma rede de implícitos pode aparentar uma repetição ou estabilização de sentidos, entretanto, quando irrompe em condições de produção diferentes ou se inscrevendo em outra formação discursiva (FD), essa aparente estabilidade pode ruir e sentidos novos podem irromper. Desse modo, o dizível só ganha sentido nas condições de produção em que irrompe e na FD no qual se inscreve. A memória discursiva exibe, assim, um duplo jogo de força que se abre aos deslizamentos, mas também mantém a regularização pelo viés da repetição.

Biografia do Autor

Rosemere de Almeida Aguero, UEMS / FUNDECT
Doutora em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Professora da UEMS – Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul

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Seção
ENSINO DE LÍNGUAS, SEMIÓTICA, SEMÂNTICA, SINTAXE - ARTIGOS