AS VOZES QUE DESDIZEM
INFÂNCIAS E JUVENTUDES NA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA
Resumo
Se espelhar é repetir, queremos espalhar: criar espaço à multiplicidade de vozes, especialmente as infantis, na construção do conhecimento matemático. Espalhar é romper com a lógica de erro como ausência e reconhecer as crianças como produtoras de sentidos, cujas formas próprias de pensar e dizer devem ser respeitadas. No lugar de espelhos que apenas repetem, defendemos uma escuta que reverbera – uma educação matemática viva, plural e sensível às experiências de quem aprende. “Desdizer” é, então um convite para a desconstrução de narrativas rígidas e abre espaços para que as infâncias e juventudes se manifestem. No processo de ensino e aprendizagem da matemática, é comum que as vozes das crianças sejam abafadas sob a alegação de que, devido ao seu estágio de desenvolvimento (biológico, cognitivo e outros), elas devem aprender passivamente, ouvindo, e não participar ativamente do processo de construção do conhecimento. Essa visão está ligada a uma perspectiva adultocêntrica, que vê o conhecimento como algo exclusivo dos adultos, desvalorizando as contribuições das crianças. Inspiradas pelas vozes de crianças e jovens, propomos a criação de manifestos que desestabilizem a lógica adultocêntrica da escola, onde a infância é vista como um “ainda-não” e o conhecimento como domínio apenas dos adultos. Os manifestos não serão declarações prontas, mas processos em que as narrativas das infâncias poderão romper o silêncio, questionar práticas e pensar outros modos de ensinar e aprender matemática. Em um primeiro momento, pensamos em realizar essa pesquisa com alunos do 1º ano dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental até o 3º ano do Ensino Médio, em diferentes escolas, das redes municipais e estaduais localizadas em Campo Grande/MS. Para essa pesquisa de doutorado buscamos explorar as contribuições das vozes de crianças e jovens para a criação de manifestos que possam contribuir na formação e na prática de professores de matemática. A pesquisa propõe mapear suas visões sobre o processo de ensino-aprendizagem, trazendo suas experiências e expectativas. Influenciadas pela proposta de “infância pós-humana” (Murris et al., 2021) e pela difração de Barad (2007), acreditamos que as crianças e os adultos se co-constituem nos encontros e interações, rompendo hierarquias. A proposta do manifesto, surge a partir dessas interações, não busca criar generalizações, mas reconhecer a diferença como um princípio fundamental da educação matemática. Desejamos que as vivências compartilhadas por professores/as e pesquisadores/as no SESEMAT nos ajudem a pensar possibilidades para termos possibilidades de escutas ativas.