Sujeito e referência indefinida: Prescrição, descrição e ensino

  • Bruno Humberto da Silva Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Palavras-chave: Sujeito Indeterminado, Referência Indefinida, Propostas de Ensino.

Resumo

Esta pesquisa busca discutir as questões relacionadas ao estudo e ao tratamento dado ao sujeito indeterminado, previsto na gramática normativa. A proposta emergiu de dificuldades no ensino do tema, a partir de: (i) observação de ocorrências não conhecidas nem abordadas pela tradição normativa, em redações escolares; e (ii) debate entre alunos, em aulas, sobre o aspecto limitado da circunscrição terminológica padronizada pela Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB), na literatura didática do país, especificamente no tocante às construções com indeterminação de sujeito fora do espectro normativo. De forma pontual, esta pesquisa não abdica do legado técnico, histórico e cultural obtido da gramática normativa, tampouco se ocupa de críticas aleatórias à gramática e à NGB. Ao contrário, o que se propõe, no plano empírico e por critérios estritamente linguísticos, é o entrelaçamento de duas coordenadas – a linha teórico-metodológica da gramática normativa e as contribuições dos estudos descritivos da língua – redirecionadas: (i) ao letramento reflexivo e metalinguístico no ensino de língua materna e (ii) à reflexão constante para a formação do professor de língua. Para isso, as teorias norteadoras da linha metodológica de pesquisa se alicerçam em Duarte (2009) e Vieira (2017). Para realizá-lo, foi aplicada, inicialmente, uma pesquisa de base sociolinguística em uma escola da rede pública do município do Rio de Janeiro, numa turma com 30 alunos do oitavo ano, cuja finalidade foi verificar, por meio de uma sequência de atividades, quais construções e estratégias de indeterminação estão sendo empregadas pelos estudantes e se o material didático da escola tem sido adequado nas tarefas de desenvolver o conhecimento do aluno sobre o tema, ampliar o repertório quanto às realizações de indeterminação, e, ainda, relacionar essas construções a um nível apropriado de leitura e produção textuais. Nessa prévia etapa diagnóstica, foi possível verificar que os estudantes fazem uso de construções com sujeito indeterminado, em sua maior parte não apreciadas pela gramática normativa; o que permite concluir, embora preliminarmente, sobre a necessidade de se ter cada vez mais estudos empíricos sistemáticos, com vistas à ampliação e renovação do acervo de estratégias de ensino de uma gramática normativa em bases realistas; além de constatar, inclusive, a importância do aspecto pragmático como articulação complementar entre gramática e ensino.

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Publicado
2018-11-21
Como Citar
da Silva, B. H. (2018). Sujeito e referência indefinida: Prescrição, descrição e ensino. Papéis: Revista Do Programa De Pós-Graduação Em Estudos De Linguagens - UFMS , 21(41), 168-188. Recuperado de https://periodicos.ufms.br/index.php/papeis/article/view/5816
Seção
Artigos - Linguística e Semiótica