DIREITOS HUMANOS E DECORO PARLAMENTAR: SOBRE A POSSIBILIDADE DE CASSAÇÃO DE MANDATO POR DISCURSO DE ÓDIO

  • Alessandro Soares Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie - UPM São Paulo

Abstract

Este artigo explora a questão do discurso de ódio proferido por parlamentar e o seu possível enquadramento como comportamento incompatível com o decoro consoante previsto no art. 55, II, da Constituição brasileira de 1988. Argumentamos que, quando um congressista emite um discurso de ódio, há ofensa direta à dignidade institucional, fato este que legitima, inclusive, a sua responsabilização política. O discurso de ódio escamoteia a pretensão e eficácia constitucional naquilo que há de mais importante: o princípio da cidadania − que tem como substrato a igualdade e a dignidade humana. Em última instância, defendemos que a liberdade democrática não comporta o discurso de ódio. 

Author Biography

Alessandro Soares, Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie - UPM São Paulo

Doutor em Direito pela Universidade de Salamanca - USAL Espanha e pela Universidade de São Paulo - USP. Mestre em Direito pela Universidade de São Paulo - USP. Professor da Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Professor e diretor acadêmico da Faculdade Escola Paulista de Direito (EPD).

References

BASTOS, Celso Ribeiro; MARTINS, Ives Gandra. Comentários à Constituição do Brasil. São Paulo: Saraiva, 1999. v. 4, t. I.

CARDOZO, José Eduardo Martins. Consulta n. 001/2007. Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados. Cadernos de Pós-Graduação em Direito: estudos e documentos de trabalho, n. 4. Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da USP. São Paulo: Manole, 2011.

CAVALCANTI, Themistocles Brandão. A Constituição Federal comentada. Rio de Janeiro: José Konfino, 1948. v. II.

CONSEJO DE DERECHOS HUMANOS, Aplicación de la Resolución 60/251 de la Asamblea general, de 15 de marzo de 2006, titulada al odio racial y religioso y promoción de la tolerância: informe de la Alta Comisionada de las Naciones Unidas para los Derechos Humanos, A/HCR/2/6, 20 de septiembre de 2006, p. 25. Disponível em: <http://www2.ohchr.org/english/bodies/hrcouncil/docs/2session/A_HRC_2_6_sp.doc>. Acesso em: 20 jun. 2017.

CORTESE, Anthony. Opposing hate speech. London: Praeger, 2006.

CUNHA, Sérgio Sérvulo da. Fundamentos de direito constitucional. São Paulo: Saraiva, 2008. v. 1.

DHARMAPALA, Dhammika; MCADAMS, Richard H. Words that kill? An economic model of the influence of speech on behavior (with particular reference to hate speech). The Journal of Legal Studies, v. 34, n. 1 p. 93-136, January 2005. Disponível em: <http://www.jstor.org/stable/10.1086/425599>. Acesso em: 27 abr. 2017.

DIÁRIO DE NOTÍCIAS. Punido eurodeputado que acha as mulheres “menos inteligentes”. Lisboa, 14 mar. 2017. DN Mundo. Disponível em: <http://www.dn.pt/mundo/interior/punido-eurodeputado-que-acha-as-mulheres-mais-fracas-e-menos-inteligentes-5723505.html>. Acesso em: 24 jun. 2017.

DINAMARCO, Candido Rangel. Instituições de direito processual civil. São Paulo: Malheiros, 2004. v. I.

DOLZAN, Marcio. “Não podemos abrir as portas para todo mundo”, diz Bolsonaro em palestra na Hebraica. Estadão Política, São Paulo, 03 abr. 2017. Disponível em: <http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,nao-podemos-abrir-as-portas-para-todo-mundo-diz-bolsonaro-em-palestra-na-hebraica,70001725522>. Acesso em: 02 jul. 2017.

DORIA, A. de Sampaio. Direito constitucional: comentários à Constituição de 1946. São Paulo: Max Limonad, 1960. v. 2.

FELLET, João. Por que Donald Trump é popular entre os conservadores nos EUA – e fora deles. BBC Brasil, 25 dez. 2015. Disponível em: <http://www.bbc.com/

portuguese/noticias/2015/12/151224_donald_trump_popularidade_jf_rb>. Acesso em: 25 jun. 2017.

FERRAJOLI, Luigi. La democracia a través de los derechos. El constitucionalismo garantista como modelo teórico y como proyecto político. Tradução de Perfecto Andrés Ibáñez. Madrid: Trota, 2014.

FERRAJOLI, Luigi. Poderes salvajes. La crisis de la democracia constitucional. Tradução de Perfecto Andrés Ibáñez. Madrid: Trotta, 2011.

FIGUEIREDO, Lúcia Valle. Curso de direito administrativo. São Paulo: Malheiros, 1998.

FOLHA DE SÃO PAULO. Morre índio atacado por adolescentes. São Paulo, 21 abr. 1997. Folha Cotidiano. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fol/geral/

ge21041.htm>. Acesso em: 08 jul. 2017.

FREYRE, Gilberto. Sobrados e mucambos: decadência do patriarcado rural e desenvolvimento do urbano. 6. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1981.

GARGARELLA, Roberto. Constitucionalismo y libertad de expresión. In: ORDOÑEZ, María Paz Ávila; SANTAMARÍA, Ramiro Ávila; GERMANO, Gustavo Gómez (Eds.). Libertad de expresión: debates, alcances y nueva agenda. Quito: Organización de las Naciones Unidas para la Educación, la Ciencia y la Cultura, UNESCO, 2011. Disponível em: <http://unesdoc.unesco.org/images/0021/002156/215627s.pdf>. Acesso em: 08 jun. 2017.

GAUDEMET, Yves. Traité de droit administratif. Paris: LGDJ, 2001.

GRAMSCI, Antonio. Odio a los indiferentes. Tradução de Cristina Marés. Madrid: Ariel, 2016.

HARVEY, David. Cidades rebeldes: o direito à cidade à revolução urbana. Tradução de Jeferson Camargo. São Paulo: Martins Fontes, 2014.

HELLER, Herman. Teoria do Estado. São Paulo: Mestre Jou, 1968.

HESSE, Konrad. A força normativa da Constituição. Porto Alegre: Fabris Editor,1991.

LINZ, Juan J.; STEPAN, Alfred. A transição e consolidação da democracia: a experiência do sul da Europa e da América do Sul. Tradução de Patrícia de Queiroz Carvalho Zimbres. São Paulo: Paz e Terra, 1999.

LOEWENSTEIN, Karl. Democracy and fundamental rights, I. The American Political Science Review, v. 31, n. 3, p. 417-432, Jun. 1937. Disponível em: <http://www.jstor.org/

stable/1948164>. Acesso em: 28 jun. 2017.

LOEWENSTEIN, Karl. Teoría de la constitución. Tradução de Alfredo Gallego Anabitarte. Barcelona: Ariel, 1986.

LOMBA, Pedro. Teoria da responsabilidade política. Coimbra: Coimbra Editora, 2008.

MELLO, Celso Antônio Bandeira. Curso de direito administrativo. 32 ed. São Paulo: Malheiros, 2014.

MELLO, Celso Antônio Bandeira. Discricionariedade e controle jurisdicional. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2003.

MIRANDA, Jorge. Constituição e cidadania. Coimbra: Coimbra Editora, 2003.

OLIVEIRA, Francisco. Crítica da razão dualista o ornitorrinco. São Paulo: Boitempo, 2006.

PAREKH, Bhikhu. Hate speech. Is there a case for banning? Public Policy Research, v. 12, n. 4, p. 213-223, Feb. 2006. Disponível em: <http://onlinelibrary.wiley.com/doi/

1111/j.1070-3535.2005.00405.x/abstract>. Acesso em: 22 jun. 2017.

PIERUCCI, Antônio Flávio. Ciladas da diferença. São Paulo: Editora 34, 2008.

PINTO, Célia Regina Jardim. A banalidade da corrupção. Uma forma de governar o Brasil. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2011.

PRÉLOT, Marcel. Institutions politiques et droit constitutionnel. Paris: Dalloz, 1963.

REALE, Miguel. Decoro parlamentar e cassação de mandato eletivo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1969.

REY, Juan Carlos. La democracia venezolana y la crisis del sistema populista de conciliación. Revista de Estudios Políticos (Nueva Época), n. 74, oct.-dic., p. 533-578, 1991. Disponível em: <http://www.cepc.gob.es/publicaciones/revistas/

revistaselectronicas?IDR=3&IDN=231>. Acesso em: 08 mar. 2017.

ROLLAND, Louise. Sur les notions juridiques indéterminées. Les tiers en droit privé québécois, ces étranges étrangers. Revue Générale de Droit, v. 35, n. 4, p. 533-551, 2005. Disponível em: <https://www.erudit.org/fr/revues/rgd/2005-v35-n4-rgd01574/

ar.pdf>. Acesso em: 08 jun. 2017.

SINGER, Paul. Repartição da renda. Pobres e ricos sob o regime militar. Rio de Janeiro: Zahar, 1986.

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. MS n. 21.443 Rel. Min. Octávio Gallotti. RDA, v. 189, p. 272, 1991.

TEIXEIRA, Carla Costa. A honra da política. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1998.

THOMPSON, John B. O escândalo político: poder e visibilidade na era da mídia. Petrópolis: Vozes, 2002.

TSESIS, Alexander, Dignity and speech: the regulation of hate speech in a democracy. Wake Forest Law Review, v. 44, p. 497-532, May 2009. Disponível em: <https://ssrn.com/abstract=1402908>. Acesso em: 25 jun. 2017.

VILLEGAS, Mauricio García. Constitucionalismo aspiracional. Araucaria, Revista Iberoamericana de Filosofia, Política y Humanidades, año 15, n. 29, p. 77-97, Prim. Sem. 2013. Disponível em: <http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=28225781004>. Acesso em: 04 jul. 2017.

WALDRON, Jeremy. Dignity and defamation: the visibility of hate. Harvard Law Review, v. 123, n. 7, p. 1.596-1.657, May 2010. Disponível em: <http://www.jstor.org/

stable/40648494>. Acesso em: 12 jun. 2017.

WEBER, Max. O Estado-nação e a política econômica. São Paulo: Martins Fontes, 2014.

YONG, Caleb. Does freedom of speech include hate speech? Res. Publica 17:385, p. 385-403, 2011. Disponível em: <https://link-springer-com.ez67.periodicos.capes.gov.br/article/10.1007/s11158-011-9158-y>. Acesso em: 28 jun. 2017.

ŽIŽEK, Slavoj. O que a vitória de Corbyn ensina. Outras Palavras. São Paulo, 20 jun. 2017. Disponível em: <http://outraspalavras.net/outrasmidias/capa-outras-midias/zizek-o-que-a-vitoria-de-corbyn-ensina/>. Acesso em: 22 jun. 2017.

Published
2018-01-05