Olhares decoloniais para o ensino de inglês
Resumo
O status de língua franca com status global confere à língua inglesa uma condição de mediadora em relações multiculturais. Assim, grande parte das trocas linguísticas no idioma pode ocorrer entre falantes não-nativos, ou entre falantes nativos e não-nativos. Apesar dessa condição ser responsável por implicações muito significativas no ensino da língua inglesa, em especial no ensino de Inglês, é flagrante a permanência de concepções colonialistas que acabam por supervalorizar um modelo idealizado de falante nativo, cujas variantes de prestígio são comumente identificadas como inglês americano e inglês britânico. Nessa concepção, o nativo representa um parâmetro utilizado para definir a fala correta, a pronúncia perfeita, o uso adequado da língua, dessa forma, norteando valores e comportamentos culturais que se materializam em materiais didáticos, práticas pedagógicas, propagandas de escolas de idiomas, etc. Por outro lado, diversas variantes possíveis da língua inglesa acabam sofrendo estigmatização devido a presença do preconceito linguístico alimentado por esse tipo de abordagem. Este estudo, então, propõe uma releitura do tema de forma a ressignificar o papel do ensino de inglês e, para isso, apresenta como alternativas o conceito de língua franca alinhado a uma abordagem intercultural que integre perspectivas globais sem negligenciar o contexto local. A pesquisa leva à conclusão que uma educação linguística de qualidade não pode estar dissociada de seu papel político, crítico e de resitência à forças e discursos hegemônicos.
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