Olhares decoloniais para o ensino de inglês

Palavras-chave: Inglês como língua franca, nativo, interculturalidade

Resumo

O status de língua franca com status global confere à língua inglesa uma condição de mediadora em relações multiculturais. Assim, grande parte das trocas linguísticas no idioma pode ocorrer entre falantes não-nativos, ou entre falantes nativos e não-nativos. Apesar dessa condição ser responsável por implicações muito significativas no ensino da língua inglesa, em especial no ensino de Inglês, é flagrante a permanência de concepções colonialistas que acabam por supervalorizar um modelo idealizado de falante nativo, cujas variantes de prestígio são comumente identificadas como inglês americano e inglês britânico. Nessa concepção, o nativo representa um parâmetro utilizado para definir a fala correta, a pronúncia perfeita, o uso adequado da língua, dessa forma, norteando valores e comportamentos culturais que se materializam em materiais didáticos, práticas pedagógicas, propagandas de escolas de idiomas, etc. Por outro lado, diversas variantes possíveis da língua inglesa acabam sofrendo estigmatização devido a presença do preconceito linguístico alimentado por esse tipo de abordagem. Este estudo, então, propõe uma releitura do tema de forma a ressignificar o papel do ensino de inglês e, para isso, apresenta como alternativas o conceito de língua franca alinhado a uma abordagem intercultural que integre perspectivas globais sem negligenciar o contexto local. A pesquisa leva à conclusão que uma educação linguística de qualidade não pode estar dissociada de seu papel político, crítico e de resitência à forças e discursos hegemônicos.

Biografia do Autor

Fátima de França Machado, UERJ

Especialista em Linguística Aplicada ao Ensino de Inglês como Língua Adicional (UERJ), Aluna do Programa de Mestrado em Estudos de Língua, Linguística, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

Michelle Silva de Lima Delfino, UERJ

Especialista em Linguística Aplicada ao Ensino de Inglês como Língua Adicional (UERJ), Aluna do Programa de Mestrado em Estudos de Língua, Linguística, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

Cassandra de Oliveira Rodrigues, UERJ

Especialista em Linguística Aplicada ao Ensino de Inglês como Língua Adicional (UERJ), Aluna e Bolsista do Programa de Mestrado em Estudos de Língua, Linguística, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro. O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES), Código de Financiamento 001.

Referências

ALMEIDA FILHO, José Carlos Paes. Língua além de cultura ou além da cultura, língua? Aspectos do ensino da interculturalidade. In: CUNHA, M.J.C & SANTOS, P. Tópicos em Português Língua Estrangeira. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2002, p.209-215.

BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico. 56. ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2015.

BARBOSA, Jane Rangel Alves. Abordagem do professor de inglês em relação aos “erros” de pronúncia dos aprendizes. 2007. 213f. Tese (Doutorado em Linguística) – Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, CE.

BARBOSA, Lúcia Maria Assunção. Visões interculturais ou identidades cristalizadas? O Brasil e os brasileiros nos livros didáticos de português para estrangeiros. In: Fleuri, R.M.(Org.). XII Congresso da Associação Internacional para Pesquisa Intercultural (ARIC). p 1-18, v. 1, 2009.

BAKHTIN, Mikhail. Problemas da poética de Dostoiévski. Trad. Paulo Bezerra. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1981.

CAMARGO, Helena Regina Esteves. Uma Língua Inglesa para chamar de minha: equivocações sobre o bom falante de inglês. Revista Estudos Linguísticos, São Paulo, v. 45, n.2, p. 651-665, 2016

CRYSTAL, David. English as a global language. Cambridge: Cambridge University Press, 2003.

CRYSTAL, David. What is Standard English? Concorde (English-Speaking Union), p. 24-6, 1994. Disponível em: http://www.davidcrystal.com/?id=4068&fromsearch=true#iosfirsthighlight. Acesso em: 10 jun. 2019.

CRYSTAL, David. Should English be taught as a ‘global’ language? Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=tLYk4vKBdUo. Acesso em: 17 dez. 2019.

CRYSTAL, David.; QUIRK, Randolf. A comprehensive grammar of the english language. 8. ed. New York: Longman Inc., 1990.

CORBETT, John. Intercultural Language Activities. Cambridge Handbook for Teachers. Cambridge: CUP, 2010.

DEWEY, Martin. English as a lingua franca and globalization: an interconnected perspective. International Journal of Applied Linguistics, v. 17, n. 3, p. 332 – 354, 2007.

EL KADRI, Michelle Sales. Atitudes sobre o estatuto do inglês como língua franca em um curso de formação inicial de professores. 2010. 154f. Dissertação (Mestrado em Estudos da Linguagem) - Universidade de Londrina, Londrina, PR.

EL KADRI, Michelle Sales; GIMENEZ, T. Formando Professores de Inglês para o Contexto do Inglês como Língua Franca. Acta scientiarum language and culture, Maringá, v. 35, n. 2, p. 125-133, abr.-jun., 2013.

FIGUEIREDO, Carla Janaina. O falante nativo de inglês versus o falante não-nativo: representações e percepções em uma sala de aula de inglês. Linguagem & Ensino, Pelotas, v.14, n.1, p. 67-92, jan./jun. 2011

INTERNET world users by language: top ten languages. Internet world stats, 2019. Disponível em: https://www.internetworldstats.com/stats7.htm. Acesso em: 28 mar. 2021.
JORDÃO, Clarissa Menezes. ILA - ILF - ILE - ILG: quem dá conta?. Revista Brasileira de Linguística Aplicada [online]. 2014, v. 14, n. 1, pp. 13-40. Disponível em: . Acesso em: 26 jul. 2021
KACHRU, Braj. Standards, codification and sociolinguistic realism: the English language in the outer circle. In: R. Quirkand H.G. Widdowson (Eds), English in the world: Teaching And Learning The Language And Literatures. Cambridge: Cambridge University Press, 1985. p. 11-30.

KAWACHI, Guilherme Jotto. Estereótipos culturais em estágios avançados de aprendizado de inglês como língua estrangeira e seus desdobramentos para ensino e uso do idioma. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2011.

KILICKAYA, Ferit. World Englishes, English as an international language Applied Linguistics. CCSE, Lublin, v. 2, n. 3, p. 35-38, sep. 2009. Disponível em: http://www.ccsenet.org/journal/index.php/elt/article/view/2159. Acesso em: 28 mar. 2021.

KRAMSCH, Claire. Context and Culture in Language Teaching. 2. ed. Oxford: Oxford University Press, 1994.

KRAMSCH, Claire. The Privilege of the Non Native Speaker. PMLA, v. 112, n. 3, p. 359-369, mai. 1997. Disponível em: http://www.jstor.org/stable/462945. Acesso em: 28 out. 2019.

KUMARAVADIVELU, Bala. Understanding Language Teaching: From Method To Postmethod. Mahwah, NJ: Lawrence Erlbaum Associates, 2006

KUMARAVADIVELU, Bala. Individual identity, cultural globalisation, and teaching English as an international language: the case for an epistemic break. In Alsagoff, L., Renandya, W., Hu, G. andMcKay, S. (eds), Principles And Practices for teaching English as an international language. New York: Routledge: 9–27, 2012

KUMARAVADIVELU, Bala. The Decolonial Option in English Teaching: Can the Subaltern Act?. TESOL Q, 50: 66-85, 2016. Disponível em: https://doi.org/10.1002/tesq.202. Acesso em: 28 out. 2019.

LIMA, Ana. Paula.; KAWACHI, Guilherme. Jotto. Ensino de inglês para crianças da era da globalização: reflexões sobre (multi)letramentos, formação de professores e educação. In: ROCHA, C. R; BRAGA, D. B.; CALDAS, R. R.. (Org.). Políticas linguísticas, ensino de línguas e formação docente: desafios em tempos de globalização e internacionalização. 1ed. Campinas: Pontes Editores, 2015, v. 1, p. 195-2014.

MOITA-LOPES, Luiz Paulo. Inglês e globalização em uma epistemologia de fronteira: ideologia linguística para tempos híbridos. DELTA, São Paulo, v. 24, n. 2, p. 309-340, 2008.

MALDONADO-TORRES, Nelson. Transdisciplinaridade e decolonialidade. Soc. estado. Brasília, v. 31, n. 1, p. 75-97, Apr. 2016 .

MARTINS, Cristina Gomes de Freitas. A visão do professor quanto ao ensino da pronúncia em dois cursos de inglês da cidade de Fortaleza. 2005. 95f. Dissertação (Mestrado em Linguística Aplicada) - Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, CE.

OLIVEIRA, Luciano Amaral. Métodos de ensino de inglês: teorias, práticas, ideologias. São Paulo: Parábola Editorial, 2014.

PILLER, Ingrid. Who, if anyone, is a native speaker? Disponível em: https://www.languageonthemove.com/downloads/PDF/piller_2001_who%20is%20a%20native%20speaker.pdf. Acesso em: 29 set. 2019.

PENNYCOOK, Alaistair. English and the discourses of colonialism. London: Routledge, 1998.

PENNYCOOK, Alaistair. Language as local practice. New York: Routledge, 2010

RAJAGOPALAN, Kanavillil. O inglês como língua internacional na prática docente: In: Lima, Diogenes Candido. (ed.). Ensino e Aprendizagem de Língua Inglesa: Conversas com Especialistas. São Paulo - SP: Parábola Editorial. p. 39-46, 2009

RAJAGOPALAN, Kanavillil. Por uma Linguística Crítica: linguagem, identidade e a questão ética. São Paulo: Parábola Editorial, 2003.

ROCHA, Claudia Hilsdorf.; MACIEL, Roberval Franco. (orgs.). Língua estrangeira e formação cidadã: por entre discursos e práticas. Campinas: Pontes Editores, 2013

SCHERRE, Marta Maria Pereira. Entrevista com Maria Marta Pereira Scherre sobre preconceito linguístico, variação linguística e ensino. [Entrevista concedida a] Jussara Abraçado. Cadernos de Letras da UFF – Dossiê: Preconceito linguístico e cânone literário. Niterói, n. 36, p. 11-26, 1. sem. 2008.

SEIDLHOFER, Barbara. Closing a Conceptual Gap: the case of the description of English as a Lingua Franca. International Journal of Applied Linguistics, v. 11, n. 2, p. 133 – 158, 2001.

SEIDLHOFER, Barbara. Research Perspectives on Teaching English as a Lingua Franca. Annual Review Of Applied Linguistics, v. 24, p. 209-239, 2004.

SNOW, Marguerite Ann., KAMHI-STEIN, Lía D.,BRINTON, Donna M. Teacher Training for English as a Lingua Franca. Annual Review Of Applied Linguistics, v. 26, p. 261-281, 2006.

VIANA, Nildo. Linguagem, discurso e poder: ensaios sobre linguagem e sociedade. Pará de Minas: Virtualbooks, 2009.

WALSH, Catherine. Interculturalidade e decolonialidade do poder: um pensamento e posicionamento “outro” a partir da diferença colonial. Revista Eletrônica da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Pelotas, v. 05, n. 1, p. 5-39, 2019.
Publicado
2021-12-17