O fantástico moderno nas obras de Franz Kafka e Murilo Rubião
Resumo
Na visão de Tzvetan Todorov (2017), o fantástico tradicional ou clássico, caracterizado pela hesitação – sentida por uma personagem, que cumpra, especialmente, a função de narrador; comunicada ao narratário, ser de papel; transmitida, finalmente, ao leitor, ser de carne e osso –, teria surgido na viragem do século XVIII para o XIX e chegado ao fim na viragem do XIX para o XX. Todorov é considerado o teórico basilar da perspectiva genológica do fantástico em distinção às perspectivas modal e categorial, por exemplo. Por considerar que as narrativas de Franz Kafka não produzem hesitação e que a Psicanálise teria fragilizado o fantástico, ele defende que, a partir do início do século XX, ter-se-ia inaugurado outro fantástico, fundado pela publicação de A metamorfose, de Kafka. O objetivo deste artigo é discutir as particularidades desse fantástico inaugurado por Kafka e demonstrar proximidades entre sua obra e a de Murilo Rubião, valendo de uma leitura comparativa de A metamorfose com “Bárbara”, de Rubião. Há muitas similaridades entre essas duas narrativas, o que permite a reunião do escritor tcheco e do brasileiro na seara do fantástico moderno ou contemporâneo.
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