Dentre os vários aspectos teóricos relacionados com a literatura fantástica, merece destaque a oposição estabelecida entre o fantástico “tradicional” e o “moderno”, entendendo-se aqui o “tradicional” como o gênero formulado por Tzvetan Todorov, em sua Introdução à literatura fantástica. Segundo Todorov, em seu célebre estudo publicado pela primeira vez em 1970, o fantástico é a hesitação a respeito do caráter sobrenatural ou não de um acontecimento extraordinário, ocorrido em um mundo ficcional semelhante ao nosso. Nesse sentido, a narrativa fantástica pressupõe um realismo e um acontecimento que (aparentemente ou não) transgride as leis do mundo realista. E, sendo assim, o gênero se constitui como uma forma de oposição ao Realismo/Naturalismo do século XIX. Já no século seguinte, com A metamorfose, de Franz Kafka, a narrativa do sobrenatural teria se transformado em algo completamente diferente do gênero formulado por Todorov. Isso se daria, para o crítico búlgaro, porque, dentre outros motivos, a Psicanálise teria colocado em xeque os pressupostos positivistas, nos quais o Realismo se fundamenta. E, desse modo, Todorov considera que a literatura fantástica sobrevive apenas até o final do século XIX. Ora, mas muitos são os autores que discordam de Todorov nesse aspecto e procuram discutir os rumos que a literatura fantástica teria tomado a partir do século XX. Dentre eles, podemos citar, por exemplo: Jaime Alazraki, Irène Bessière, Remo Ceserani, Davi Roas, Rosemary Jackson, etc. Considerando essa questão, o presente dossiê temático se propõe a discutir, do ponto de vista teórico ou a partir da análise crítica de textos literários específicos, as caraterísticas do fantástico moderno, em oposição ao tradicional.