Dizeres sobre a linguagem neutra de gênero no ciberespaço
língua e gênero em discursividade
Abstract
Neste artigo, apresentamos uma análise discursiva de dizeres sobre a linguagem neutra de gênero nas seguintes materialidades significantes: 1) Episódio de podcast intitulado “Não existe linguagem neutra! Uma conversa com Raquel Freitag” (Linguística ON, 2024); 2) Entrevista intitulada “A(s) linguística(s) e a linguagem neutra: Entrevista com Raquel Meister Ko Freitag” (Freitag, 2023). A linguagem neutra de gênero, também denominada linguagem não binária, propõe a visibilização de sujeitos-não-binários na língua, ou seja, aqueles que não se identificam com o binarismo de gênero (masculino/feminino). Nosso objetivo, neste estudo, é compreender como o discurso sobre a linguagem neutra de gênero circula no ciberespaço, na contemporaneidade (2023/2024), a partir da perspectiva teórico-metodológica da Análise de Discurso (AD) de filiação materialista. Vale dizer que o discurso em análise é de autoria de um sujeito-linguista, especificamente um sujeito-sociolinguista, a quem estão autorizados determinados sentidos a serem discursivizados e não outros. Acreditamos na relevância de depreender acerca dos efeitos de sentido produzidos pelo/no discurso enunciado por um sujeito-linguista, tendo em vista a necessidade emergente de estudos discursivos sobre a temática da linguagem neutra de gênero, ainda que consideremos que nem a língua, nem a linguagem, nem mesmo o ciberespaço, sejam neutros ou transparentes, mas opacos e passíveis de equivocidade. Por fim, observamos que o discurso do sujeito-linguista produz sentidos de incerteza e busca de autoridade sobre a língua portuguesa e sobre a linguagem neutra no ciberespaço.
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