O Brasil atual, inscrito em um estado de reconfiguração global das condições de produção, é tomado por disputas de sentido acirradas em todas as suas dimensões, como em torno dos sentidos de raça, de gênero e de classe, assim como nas práticas constitutivas da política partidária, da escola, do trabalho, da mídia, do meio ambiente, entre outras. As disputas de sentido têm seu motor na contradição estruturante da sociedade. Conforme Althusser (1980), o processo de produção capitalista coloca em movimento, sob relações de produção definidas, as forças produtivas existentes. As forças produtivas, para Cohen (2010), são os meios de produção e a força de trabalho, cuja relação se desdobra em tensionamentos. A respeito desse funcionamento, não é possível considerar que o lugar social ocupado pelo sujeito seja determinante dos sentidos com os quais se identifica, isto é, não necessariamente um trabalhador assalariado apoiará a redução da jornada de trabalho nem as populações precarizadas defenderão os direitos sociais. A contradição econômica estruturante do social, empiricamente descritível, desdobra-se no discurso, em uma intrincada relação entre os sentidos, as formações discursivas e as posições de sujeito. Nessa direção, Michel Pêcheux (2009, p.149) propõe a noção de interdiscurso, formulando-a como o “‘todo complexo com dominante’ das formações discursivas [...], submetido à lei de desigualdade-contradição-subordinação que, como dissemos, caracteriza o complexo das formações ideológicas”. O complexo das formações discursivas está submetido à lei de desigualdade-contradição-subordinação, sendo configurado por disputas inscritas em nossa formação social. A compreensão do funcionamento desses sentidos em disputa no quadro atual da formação social brasileira é objeto deste dossiê. 

Organizadores: Flavio da Rocha Benayon (UFMS), Liliane Souza dos Anjos (UNESP), Felipe Augusto Santana do Nascimento (IFAL)