Sujeitos negros e seus espaços de vida em dicionários escolares de Língua Portuguesa
Resumen
Os sentidos das palavras podem ser estudados a partir dos dicionários, uma vez que tais instrumentos linguísticos legitimam sentidos que circulam na formação social em determinado período sócio-histórico. Situados na Análise do Discurso Materialista em articulação com a História das Ideias Linguísticas, este trabalho tem como objetivo analisar, a partir das definições dos verbetes de dicionário, os sentidos em torno de palavras do campo semântico étnico-racial, observando como o sujeito lexicógrafo materializa e atualiza sentidos sobre sujeitos negros e seus espaços de vida. Para tanto, por meio da análise de verbetes de dicionários escolares contemporâneos de Língua Portuguesa, buscou-se compreender os processos discursivos em jogo nas definições desses verbetes. Assim, foi possível constatar que os dicionários legitimam discursos socialmente construídos, os quais classificam e hierarquizam sujeitos e seus espaços de vida.
Citas
ANJOS, L. S. A construção de um compromisso para uma educação antirracista: entre o político e o hipnótico. Fragmentum, N 64, 2025, p. 23–34.
BRANGEL, L. M. Dicionários escolares e ensino de Língua Portuguesa. Revista Interdisciplinar - Revista de Estudos em Língua e Literatura, São Cristóvão - v. 19, 2013.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Básica. Com direito à palavra: dicionários em sala de aula. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria da Educação Básica, 2012.
BRASIL. Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”, e dá outras providências. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.639.htm#:~:text=L10639&text=LEI%20No%2010.639%2C%2020DE%209%20DE%20JANEIRO%20DE%202003.&text=Altera%20a%20Lei%20no,%22%2C%20e%20d%C3%A1%%200outras%20provid%C3%AAncias. Acesso em: 18 abril 2025.
BUENO, S. Minidicionário da Língua Portuguesa. São Paulo: FTD, 1996.
CARNEIRO, S. Dispositivo de racialidade: a construção do outro como não ser como fundamento do ser. Rio de Janeiro: Zahar, 2023.
FANON, F. Pele negra, máscaras brancas. Salvador: EdUfba, 2008.
FERREIRA, A. B. H. Minidicionário Aurélio: o dicionário da Língua Portuguesa - Século XXI. 4 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000.
GONZALEZ, L. "Racismo e sexismo na cultura brasileira". In: SILVA, L. A. et al. Movimentos sociais urbanos, minorias e outros estudos. Ciências Sociais Hoje, Brasília, ANPOCS n. 2, p. 223-244, 1983.
LUFT, C. Minidicionário Luft. 20 ed. São Paulo: Editora Ática, 2001.
MAZIÈRE, F. O enunciado definidor: discurso e sintaxe. In: GUIMARÃES, E (org.). História e sentido na linguagem. Campinas: Pontes, 1990.
MODESTO, R.; FONTANA, L. S. “Terreiro” e “Macumba”: Tensões de raça e classe nas ordens das significações. Revista Porto das Letras, v. 06, n. 05, 2020, p. 219-244.
MODESTO, R. Mulato nos dicionários de português ou sobre o que uma palavra pode contar da mestiçagem no Brasil. Revista Interfaces, v. 13, p. 1-15, 2022.
NASCIMENTO, A. O genocídio do negro brasileiro: processo de um racismo mascarado. São Paulo: Editora Perspectiva, 2016
NASCIMENTO, F. A. S. Definir, conceituar: história e sentidos da palavra-conceito cultura em dicionários de línguas e terminologias. Tese de doutorado – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Estudos da Linguagem. Campinas, SP: [s. n.], 2019
NASCIMENTO, G. Racismo linguístico: os subterrâneos da linguagem e do racismo. Belo Horizonte: Editora Letramento, 2019.
NUNES, J. H. Dicionários no Brasil: análise e história. Campinas: Pontes Editores; São Paulo: FAPESP, 2006.
NUNES, J. H. Dicionário: história, leitura e produção. Revista de Letras. Brasília, v. 3, n 1/ 2, 2010, p. 6-21.
NUNES, J. H. O dicionário como observatório da subjetividade no final do século XIX: na província, no campo, na cidade. Línguas e Instrumentos Linguísticos, Campinas, SP, v. 24, n. 47, 2021, p. 323–346.
ORLANDI, E. N/O Limiar da Cidade. Revista Rua. , Número Especial. Campinas: Nudecri/ Unicamp, 1999.
ORLANDI, E. Lexicografia discursiva. In: ___. Língua e conhecimento linguístico: para uma história das ideias no Brasil. 2 ed. São Paulo: Cortez Editora, 2013. p. 113-134.
RODRÍGUEZ-ALCALÁ, C. Discurso e cidade: a linguagem e a construção da “evidência do mundo”. In: RODRIGUES, E. A.; SANTOS, G. L. CASTELLO BRANCO, L. K. A. (orgs.) Análise de Discurso no Brasil: pensando o impensado sempre. Uma homenagem a Eni Orlandi. Campinas: Editora RG, 2011, p. 243-258
ROSA, U. Minidicionário compacto da Língua Portuguesa (com separação silábica). 9 ed. São Paulo: Editora Rideel, 1999.
TOLEDO, A. A língua e a raça: a mestiçagem como uma ideia linguística das letras brasileiras do século XIX. Revista da ABRALIN, v. 19, n. 1, p. 1-25, 8 jan. 2021.
Derechos de autor 2025 Revista Primeira Escrita

Esta obra está bajo licencia internacional Creative Commons Reconocimiento-NoComercial-SinObrasDerivadas 4.0.
a) permitem a reprodução total dos textos, desde que se mencione a fonte.
b) mantêm os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial 4.0 Internacional;
c) autorizam licenciar a obra com uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial 4.0 Internacional que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista;
d) responsabilizam-se pelas informações e pesquisas apresentadas nos textos a serem publicados na Revista Primeira Escrita, eximindo a revista de qualquer responsabilidade legal sobre as opiniões, ideias e conceitos emitidos em seus textos;
e) comprometem-se em informar sobre a originalidade do trabalho, garantindo à editora-chefe que a contribuição é original e inédita e que não está em processo de avaliação em outra(s) revista(s), quer seja no formato impresso ou no eletrônico;
f) autorizam à Revista Primeira Escrita efetuar, nos originais, alterações de ordem normativa, ortográfica e gramatical com vistas a manter o padrão normativo da língua e apresentarem o padrão de publicação científica, respeitando, contudo, o estilo dos autores e que os originais não serão devolvidos aos autores;
g) declaram que o artigo não possui conflitos de interesse.