"Com sedas matei e com ferros morri”

o corpo em disputa (classificação, abjeção e violência no Brasil)

  • Miguel Rodrigues de Sousa Neto Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS)
Palavras-chave: LGBTI, abjeção, classificação, violência, Brasil

Resumo

Neste artigo busco compreender a disputa dos corpos desenvolvida por meio de sua classificação, baseada na abjeção e que tem por consequência a violência direcionada a grande parcela da população lgbti+ no Brasil, notadamente a partir dos discursos religiosos e médico-legais. A hierarquização dos sujeitos e o assujeitamento baseados nas experiências de gênero e nas práticas eróticas leva em consideração outros marcadores da diferença, como a racialização dos corpos e classe econômica, vista nos dois casos aqui analisados: o de Febronio Indio do Brasil e o de Dandara dos Santos. A violência observada no Brasil tem distintas gradações, mas contempla a injúria, a tortura, o encarceramento e a eliminação física.

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Biografia do Autor

Miguel Rodrigues de Sousa Neto, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS)

Docente do Curso de História e do Programa de Pós-graduação em Estudos Culturais (PPGCult) do Câmpus de Aquidauana da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Doutor em História Social pela Universidade Federal de Uberlândia (2011). Coordenador do Laboratório de Estudos em Diferenças & Linguagens - LEDLin. 

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Publicado
2020-06-29
Como Citar
SOUSA NETO, M. R. DE. "Com sedas matei e com ferros morri”. albuquerque: revista de história, v. 12, n. 23, p. 96-115, 29 jun. 2020.