O QUE QUER O QUE PODE ESTE LADRÃO? literatura, marginalidade e formas de subjetivação
Resumo
Na literatura há vários ladrões que imortalizaram tipos, estereótipos e arquétipos de sujeitos múltiplos, variáveis, descontínuos. Sob este viés, assinalamos o ladrão intrinsecamente relacionado a um exterior constituinte em que emergem as marcas da sociedade, da cultura como aquele proposto por Mário de Andrade, no livro Contos Novos ou aquele que, ironicamente, nos deseja um “Feliz Ano Novo”, a partir da narrativa de Rubem Fonseca. Desde já antecipamos que não se trata das mesmas representações, a partir da leitura das obras mencionadas, pois há distanciamentos e até mesmo intersecções entre os sujeitos-ladrões que emergem de tais lugares. Assim, o olhar crítico aqui traçado visa então iluminar os textos através de visadas que, tal qual o farol de Alexandria, podem trazer à tona vieses, contradições e diálogos nas zonas de tensionamento das representações ficcionais em que se inserem para “[...] estudar as redes de sentido tecidas a partir da leitura” (SILVEIRA & SCHNEIDER, 2013, p. 10). A partir dos Estudos Culturais, tem-se clara a necessidade de produzir, através da escrita, para aqueles que se empenham no ofício da escritura, espaços de enunciação por estar inserido no campo das relações de poder anunciando filiações através da escrita, o que faz com que seja necessária a proposição de um distanciamento entre o trabalho intelectual (no caso, de escrita) do trabalho acadêmico conforme postulou Stuart Hall.
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