Um estudo endo e exoecológico da plavra-chave "pena"
Resumo
A palavra pena é entendida, à primeira vista, na acepção de uma punição aplicada como reparação por uma ação julgada repreensível, punição essa que causa sofrimento, o que leva à reflexão sobre as penalidades a partir da visão ecológica de mundo, que tem como fundamento a defesa pela vida, a ideologia ecológica, ou ecoideologia, o bem-estar e o florescimento da vida, a riqueza e a diversidade de vida, tendo como base a Ecologia Profunda, de Arne Naess. Essa perspectiva insere-se no campo dos estudos da Ecolinguística, que envolve os contextos físico, mental e social (COUTO, 2007) para perceber a inter-relação do termo em estudo com a questão da dor e do sofrimento. Associada a essa visão, aciona-se a contribuição da Semântica Histórica com os recentes estudos sobre palavras-chave, desenvolvidos por Raymond Williams (2007) e Wierzbicka (1997). O objetivo deste trabalho é, pois, desvendar os significados desta palavra e a dimensão que eles podem compreender, tomando como base o contexto histórico e a realidade prisional experienciada pela Pastoral Carcerária, ligada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Perguntas sobre qual a origem da palavra pena, quais seus diferentes usos e qual o principal significado social direcionam esta investigação. A análise segue a metodologia de estudo das palavras-chave e, nesse campo, será feito um estudo endoecológico, dos aspectos internos, e exoecológico, dos aspectos externos da língua. Os resultados demonstram que a variação da cognação, expressa nos sentidos mais correntes do termo, os de sanção aplicada como punição, castigo, penitência, suplício e como arte que causa dor e sofrimento, é significativa e vinculante da mediação que envolve a dinâmica do sistema biopsicossocial dos indivíduos, com a língua e o meio ambiente.
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