Um estudo endo e exoecológico da plavra-chave "pena"

  • Maria Célia Dias de Castro UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO MATO GROSSO DO SUL
  • Gisélia Brito dos Santos
Palavras-chave: Pena, Dor, Sofrimento.

Resumo

A palavra pena é entendida, à primeira vista, na acepção de uma punição aplicada como reparação por uma ação julgada repreensível, punição essa que causa sofrimento, o que leva à reflexão sobre as penalidades a partir da visão ecológica de mundo, que tem como fundamento a defesa pela vida, a ideologia ecológica, ou ecoideologia, o bem-estar e o florescimento da vida, a riqueza e a diversidade de vida, tendo como base a Ecologia Profunda, de Arne Naess. Essa perspectiva insere-se no campo dos estudos da Ecolinguística, que envolve os contextos físico, mental e social (COUTO, 2007) para perceber a inter-relação do termo em estudo com a questão da dor e do sofrimento. Associada a essa visão, aciona-se a contribuição da Semântica Histórica com os recentes estudos sobre palavras-chave, desenvolvidos por Raymond Williams (2007) e Wierzbicka (1997). O objetivo deste trabalho é, pois, desvendar os significados desta palavra e a dimensão que eles podem compreender, tomando como base o contexto histórico e a realidade prisional experienciada pela Pastoral Carcerária, ligada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Perguntas sobre qual a origem da palavra pena, quais seus diferentes usos e qual o principal significado social direcionam esta investigação. A análise segue a metodologia de estudo das palavras-chave e, nesse campo, será feito um estudo endoecológico, dos aspectos internos, e exoecológico, dos aspectos externos da língua. Os resultados demonstram que a variação da cognação, expressa nos sentidos mais correntes do termo, os de sanção aplicada como punição, castigo, penitência, suplício e como arte que causa dor e sofrimento, é significativa e vinculante da mediação que envolve a dinâmica do sistema biopsicossocial dos indivíduos, com a língua e o meio ambiente.

 

Biografia do Autor

Maria Célia Dias de Castro, UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO MATO GROSSO DO SUL

Atualmente é Pós-Doutoranda pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, Doutora em Letras e Linguística pela Universidade Federal de Goiás (09.03.2012). Estágio de Doutorado Sanduíche (PDDE – CAPES) na Universidade de Lisboa, Portugal, em 2010. Professora Adjunta da Universidade Estadual do Maranhão, Centro de Estudos Superiores de Balsas – UEMA/CESBA. Leciona as seguintes disciplinas: Morfossintaxe da Língua Latina, Filologia Românica, Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa, Morfossintaxe da Língua Portuguesa, História da Língua Portuguesa, Teoria da Comunicação. Realiza pesquisa na área de Linguística, com ênfase em Linguística Histórica e Ecolinguística. Atua principalmente nos seguintes temas: Toponímia, municípios maranhenses, região de Balsas-MA, sertanejo, língua, cultura e história.

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Publicado
2018-03-16
Como Citar
Dias de Castro, M. C., & Santos, G. B. dos. (2018). Um estudo endo e exoecológico da plavra-chave "pena&quot;. Papéis: Revista Do Programa De Pós-Graduação Em Estudos De Linguagens - UFMS , 20(39), 32-55. Recuperado de https://periodicos.ufms.br/index.php/papeis/article/view/2351
Seção
Artigos - Linguística e Semiótica