“SEM” ESTADO E “COM” ESTADO: APROXIMAÇÕES BIOPOLÍTICAS DA (IN)APLICABILIDADE DOS DIREITOS HUMANOS AOS APÁTRIDAS NA EUROPA DO SÉCULO XX E AOS CRIMINALIZADOS NO BRASIL CONTEMPORÂNEO

  • Maiquel Ângelo Dezordi Wermuth UNIJUÍ; UNISINOS
  • André Giovane de Castro UNIJUÍ

Resumo

O artigo discute os direitos humanos na sociedade contemporânea mediante um percurso histórico do século XVIII, com a emergência dos textos declarativos da Independência dos Estados Unidos e da Revolução Francesa, até a atualidade. Com base na matriz teórica da biopolítica e no método fenomenológico-hermenêutico, dada a necessidade compreensiva e desveladora dos fenômenos políticos e sociais ensejadores da inobservância dos preceitos basilares à dignidade, problematiza-se a (in)aplicabilidade dos direitos humanos aos apátridas do século XX, na Europa, e aos negros e pobres criminalizados, neste século XXI, no Brasil. O estudo objetiva analisar as declarações de direitos e seus efeitos aos apátridas, abordar as similitudes destes com os negros e pobres criminalizados no Brasil e, ao termo, refletir os desafios hodiernos atinentes aos direitos humanos. Percebe-se, como hipótese embrionária e conclusão da pesquisa, a aproximação das duas categorias de sujeitos à luz de três aspectos, quais sejam, a alteração de um Estado social para um Estado policial, a construção de mecanismos excepcionais de segurança nas ordens jurídicas nacionais e a inscrição dos indivíduos na estrutura estatal a partir do Direito Penal, notadamente com a infringência dos direitos humanos.

Biografia do Autor

Maiquel Ângelo Dezordi Wermuth, UNIJUÍ; UNISINOS
Doutor em Direito Público (UNISINOS); Professor dos Cursos de Direito da UNIJUÍ e UNISINOS; Professor Coordenador do Programa de Pós Gradução Stricto Sensu (Mestrado e Doutorado em Direitos Humanos) da UNIJUÍ; Líder do Grupo de Pesquisa Biopolítica e Direitos Humanos (CNPq) e Coordenador da Rede de Pesquisa em Direitos Humanos e Políticas Públicas (ReDiHPP).
André Giovane de Castro, UNIJUÍ

Bacharel em Direito pela UNIJUÍ; Mestrando em Direitos Humanos pela UNIJUÍ; Bolsista CAPES.

Referências

AGAMBEN, Giorgio. Estado de exceção. Tradução de Iraci D. Poleti. São Paulo: Boitempo Editorial, 2004.

AGAMBEN, Giorgio. Homo sacer: o poder soberano e a vida nua I. Tradução de Henrique Burigo. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007.

AGAMBEN, Giorgio. Meios sem fim: notas sobre a política. Tradução de Davi Pessoa Carneiro. Belo Horizonte: Autêntica, 2015.

ARENDT, Hannah. A condição humana. Tradução de Roberto Raposo. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2007.

ARENDT, Hannah. Origens do totalitarismo. Tradução de Roberto Raposo. 7. reimp. São Paulo: Companhia das Letras, 2017.

BAUMAN, Zygmunt. Globalização: as consequências humanas. Tradução de Marcus Penchel. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999.

BAUMAN, Zygmunt. O mal-estar da pós-modernidade. Tradução de Mauro Gama e Cláudia Martinelli Gama. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.

BUTLER, Judith; SPIVAK, Gayatri Chakravorty. Quién le canta al Estado-Nación? Buenos Aires: Paidós, 2009.

CORRÊA, Murilo Duarte Costa. Biopolítica e direitos humanos: Giorgio Agamben e uma antropolítica evanescente. Profanações, v. 1, n. 1, p. 22-37, jun. 2014. Disponível em: http://www.periodicos.unc.br/index.php/prof/article/view/564. Acesso em: 14 mar. 2019.

DECLARAÇÃO DE INDEPENDÊNCIA DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA. [S.l.: s.n.], 1776. Disponível em: http://www.uel.br/pessoal/jneto/gradua/historia/recdida/declaraindepeEUAHISJNeto.pdf. Acesso em: 25 mar. 2019.

DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DO HOMEM E DO CIDADÃO. [S.l.: s.n.], 1789. Disponível em: http://pfdc.pgr.mpf.mp.br/atuacao-e-conteudos-de-apoio/legislacao/direitoshumanos/declar_dir_homem_cidadao.pdf. Acesso em: 25 mar. 2019.

DIEL, Aline Ferreira da Silva; WERMUTH, Maiquel Ângelo Dezordi. Mídia, direito penal e o estereótipo do criminoso: uma leitura biopolítica. Curitiba: CRV, 2018.

DORNELLES, João Ricardo. Conflito e segurança: entre pombos e falcões. 2. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008.

ESPOSITO, Roberto. Comunidade e violência. Tradução de Marcus Vinícius Xavier de Oliveira. In: DANNER, Leno Francisco (Org.); DANNER, Fernando (Org.). Temas de filosofia política contemporânea. Porto Alegre: Fi, 2013, p. 13-32.

ESPOSITO, Roberto. Filosofia e biopolítica. Tradução de Marcus Vinícius Xavier de Oliveira. Ethic@, Florianópolis, v. 9. n. 2, p. 369-382, maio 2010. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/ethic/article/view/1677-2954.2010v9n2p369. Acesso em: 15 mar. 2019.

FLAUZINA, Ana Luiza Pinheiro. Corpo negro caído no chão: o sistema penal e projeto genocida do Estado brasileiro. Rio de Janeiro: Contraponto, 2008.

FOUCAULT, Michel. Em defesa da sociedade: curso no Collège de France (1975-1976). Tradução de Maria Ermantina Galvão. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

FOUCAULT, Michel. História da sexualidade I: a vontade de saber. 13. ed. Tradução de Maria Thereza da Costa Albuquerque e J. A. Guilhon Albuquerque. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1999.

HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos: o breve século XX (1914-1991). Tradução de Marcos Santarrita. 1. reimp. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

INFOPEN. Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias: atualização – junho de 2016. Brasília: Ministério da Justiça e Segurança Pública e Departamento Penitenciário Nacional, 2017. Disponível em: http://depen.gov.br/DEPEN/noticias-1/noticias/infopen-levantamento-nacional-de-informacoes-penitenciarias-2016/relatorio_2016_22111.pdf. Acesso em: 12 fev. 2019.

LAFER, Celso. A reconstrução dos direitos humanos: diálogos com Hannah Arendt. São Paulo: Companhia das Letras, 1988.

MACÉ, Marielle. Siderar, considerar: migrantes, formas de vida. Tradução de Marcelo Jacques de Moraes. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2018.

NASCIMENTO, Daniel Arruda. Biopolítica e direitos humanos: uma relação revisitada guiada pelo cortejo da ajuda humanitária. Revista de Filosofia Aurora, Curitiba, v. 25, n. 37, p. 131-150, maio 2013. Disponível em: https://periodicos.pucpr.br/index.php/aurora/article/view/631. Acesso em: 25 mar. 2019.

PÉREZ CEPEDA, Ana Isabel. La seguridad como fundamento de la deriva del derecho penal postmoderno. Madri: Iustel, 2007.

RANCIÈRE, Jacques. Who is the subject of the rights of man? The South Atlantic Quarterly, Durham, v. 103, n. 2-3, p. 297-310, jul. 2004. Disponível em: https://read.dukeupress.edu/south-atlantic-quarterly/article-pdf/103/2-3/297/469344/SAQ103-0203-02RanciereFpp.pdf. Acesso em: 17 mar. 2019.

RUIZ, Castor Marí Martín Bartolomé. Los derechos humanos ante la instrumentalización biopolítica de la vida humana: por uma política de la vida. Revista Direitos e Garantias Fundamentais, Vitória, v. 19, n. 1, p. 231-266, jan./abr. 2018a. Disponível em: http://sisbib.emnuvens.com.br/direitosegarantias/article/view/1108/pdf. Acesso em: 05 abr. 2019.

RUIZ, Castor Mari Martín Bartolomé. Los dispositivos de seguridad y el gobierno de la vida humana. Argumentos: Revista de Filosofia, Fortaleza, ano 10, n. 19, p. 7-19, jan./jun. 2018b. Disponível em: http://www.periodicos.ufc.br/argumentos/article/view/32014/72325. Acesso em: 14 mar. 2019.

WACQUANT, Loïc. Punir os pobres: a nova gestão da miséria nos Estados Unidos. Tradução de Sérgio Lamarão. 3. ed. Rio de Janeiro: Revan, 2007.

WERMUTH, Maiquel Ângelo Dezordi; NIELSSON, Joice Graciele. De Hannah Arendt a Judith Butler: em busca da humanidade perdida nas fronteiras do Estado-nação. Pensar, Fortaleza, v. 22, n. 1, 2017. Disponível em: http://periodicos.unifor.br/rpen/article/view/4322. Acesso em: 22 mar. 2019.

Publicado
2020-05-08