A histórica relação entre arte e antropologia

múltiplos olhares, dilemas e perspectivas

  • Rosalvo Ivarra Ortiz Universidade de São Paulo
Palavras-chave: Epistemologia da Arte, História disciplinar, Cultura material, perspectivas teóricas

Resumo

Afim de tecer esta discussão é imprescindível corroborar que a arte tem sido um conceito, uma noção ou ainda uma categoria controversa para a teoria antropológica desde a sua formulação e (re)formulação e posterior engajamento epistemológico. Mediante isto, a Antropologia ficou muitas vezes entre o reconhecimento da singularidade cultural de objetos e práticas que não poderia qualificar como arte sem cair no etnocentrismo, reducionismo e esforço para compor tão amplas que incluem uma variedade de práticas humanas e não-humanas sobre os quadros comparativos da experiência estética. Para sair do espaço definido por estes dois discursos, Alfred Gell o principal propulsor da Antropologia da Arte moderna, sugeriu que a experiência da arte tem a ver com uma forma especial de atribuição de agência a objetos e imagens. Assim, podemos considerar que este fenômeno pode ser o ponto de partida para desenvolver uma verdadeira teoria antropológica da arte, construída sobre a especificidade e particularidade da disciplina e suas ferramentas conceituais. Por assim dizer, a abordagem levanta questões sobre a definição dos conceitos de agência, personalidade e materialidade que comprometem outras versões de análise crítica cultural. Portanto, o presente artigo buscar realizar uma investigação histórica do desenvolvimento da disciplina Antropologia da Arte, perpassando por diferentes teorias, tradições e perspectivas tendo como eixo propulsor a cultura material, arte e cosmologia Guarani de Mato Grosso do Sul.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Rosalvo Ivarra Ortiz, Universidade de São Paulo

Possui graduação em Ciências Sociais (Licenciatura) pela Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Federal da Grande Dourados- (FCH/UFGD). Atualmente é Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Geografia Humana da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo- (PPGH/FFLCH/USP).

icone_lattes.png Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/4822314739858828

Referências

AGUIAR, R. L. S; PEREIRA, L. M. A universalidade da arte e a pesquisa da produção artística entre os povos indígenas em Mato Grosso do Sul. In: CHAMORRO, Graciela; COMBÈS, Isabelle (Org.). Povos indígenas em Mato Grosso do Sul: história, cultura e transformações sociais. Dourados, MS: Ed. UFGD, 2015. 934 p.

APPADURAI, A. The social life of things. Commodities in cultural perspective. Cambridge: Cambridge University Press, 1986. DOI: https://doi.org/10.1017/CBO9780511819582

ÅRHEM, Kaj. Makuna social organization. Uppsala: Academiae Ubsaliensis, 1981.

ATLAN, Henri. Conscience et désirs dans des systèmes auto-organisateurs. In: MORIN, Edgar; PIATELLI-PALMARINI, Massimo (Dir.). L’unité de L’homme: invariants biologiques et universaux culturels. Paris: Seuil, 1974. p. 449-465.

BOAS, Franz. El arte primitivo. Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica, 1947. p. 15-93.

BOAS, Franz. The formal element in art. In: BOAS, Franz. Primitive art. New York: Dover Publications, 1955. p. 17-63.

BRADLEY, R. Access, style and imagery: the audience for Prehistoric rock art in Atlanc Spain and Portugal, 4.000-2.000 BC. Oxford Journal of Archaeology, v. 21, n. 3, p. 231-247, dec. 2002. DOI: https://doi.org/10.1111/1468-0092.00160

BRAUN, Barbara. Pre-Columbian art and the post-Columbian world: ancient American sources of modern art. Nova York: Harry N. Abrams Publishing, 1993.

CADOGAN, León. Ayvu Rapyta. Textos místicos de los Mbya- Guaraní del Guairá - Capítulo I: Maino i rekoy pykue, las primitivas costumbresdel Colibrí. Revista de Antropologia, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 35- 42, 1953.

CASTRO, E. B. Viveiros de. A Inconstância da Alma Selvagem e Outros Ensaios de Antropologia. São Paulo: Cosac & Naify, 2002. 552 p.

CASTRO, E. B. Viveiros de. Os Pronomes Cosmológicos e o Perspectivismo Ameríndio. Mana, Rio de Janeiro, v. 2, p. 115-144, out. 1996. DOI: https://doi.org/10.1590/S0104-93131996000200005

CESARINO, Pedro. Conflitos de pressupostos na Antropologia da Arte: relações entre pessoas, coisas e imagens. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 32, n. 93, 2017. DOI: https://doi.org/10.17666/329306/2017

CLIFFORD, James. The predicament of culture. Cambridge: Harvard University Press, 1988. DOI: https://doi.org/10.2307/j.ctvjf9x0h

DAMATTA, Roberto. Relativizando: uma introdução à antropologia social. Petrópolis: Vozes, 1981.

DESCOLA, Philippe. "Ecologia e cosmologia." Etnoconservação: novos rumos para a proteção da natureza nos trópicos. São Paulo: Hucitec, 2000. p. 149-164.

DESCOLA, Philippe. “L’envers du visible: ontologie et iconologie”. In: TAYLOR, A. C.; DUFRÊNE, Th. (Ed.). Cannibalismes disciplinaires: quand l’histoire de l’art et l’anthropologie se rencontrent. Paris: Musée du quai Branly/INHA, 2010. p. 25-37.

ESPINOSA, M. F. Los patrimonios, el pan y la sal de nuestros días. Quito: Ministerio Coordinador del Patrimonio, 2013.

FAUSTO, Carlos. A máscara do animista: Quimeras e bonecas russas na América indígena. In: SEVERI, C.; LAGROU, E. (Ed.). Quimeras em diálogo: Grafismo e figuração na arte indígena. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2013. p. 305-331.

FILLITZ, Thomas. The Biennial of Dakar and South-South Circulations. Artl@s Bulletin, v. 5, Issue 2, 2016.

GAMBLE, C. Archaeology: the basics. Londres: Routledge, 2001.

GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos Editora S.A., 1989.

GEERTZ, Clifford. El antropólogo como autor. Barcelona: Padiós Studio, 1989.

GEERTZ, Clifford. O saber local: novos ensaios em antropologia interpretativa. Petrópolis: Vozes, 2000.

GELL, A. Art and agency: anthropological theory. Oxford: Oxford University Press, 1998.

GRABURN, N. H. H. Ethnic and Tourist Arts: Cultural expressions from the fourth world. University of California Press, 1976.

HASELBERGER, Herta. Method of Studying Ethnological Art. Current Anthropology, v. 2, n. 4, p. 341-384, 1961. DOI: https://doi.org/10.1086/200209

HOSKINS, J. Agency, Biography and Objects. In: TILLER, C. et al. Hand of Material Culture (Ed.). London: Sage pub, 2005. p. 74-84.

INGOLD, Tim. Making: Anthropology, Archaeology, Art and Architecture. London: Routledge, 2013. DOI: https://doi.org/10.4324/9780203559055

IVARRA ORTIZ, R. Guiando Espíritos, Sonhos e Memórias: Objetos Sagrados entre os Guarani de Mato Grosso do Sul, Brasil. Mundo Amazónico, v. 10, n. 2, p. 137-164, 2019. DOI: http://dx.doi.org/10.15446/ma.v10n2.84754.

KASFIR, S. L. Samburuso uvenirs – representations of a land in amber. In: PHILLIPS, Ruth; STEINER, Christopher. Unpacking Culture – artand commodity in colonial andpost-colonial worlds. Berkeley: California University Press, 1999.

KOPENAWA, Davi; ALBERT, Bruce. A queda do céu: palavras de um xamã Yanomami. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. 730 p.

KOPYTOFF, Igor. A biografia cultural das coisas: a mercantilização como processo. In: APPADURAI, Arjun (Org.). A vida social das coisas. As mercadorias sob uma perspectiva cultural. Niterói: EDUFF, 2008.

KROEBER, Alfred. “Art”. In: STEWARD, J. (Ed.). Handbook of South American Indians. Washington: Smithsonian Institution; Bureau of American Ethnology, 1949. p. 411-492.

LAGROUS, Els. Arte ou artefato? Agência e significado nas artes indígenas. Revista Proa, n. 02, 2010.

LATOUR, B. Laboratory Life: The Construction of Scientific Facts. Princeton: PUP, 1979.

LAYTON, R. The Anthropology of Art. Cambridge: Cambridge University Press, 1991.

LEROI-GOURHAN, A. Préhistoire de l ’Art Occidental. Paris: Mazenod, 1965.

LEVI-STRAUSS, Claude. Antropologia Estrutural. 4. ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003.

LÉVI-STRAUSS, Claude. O desdobramento da representação nas artes da Ásia e da América. In: LÉVI-STRAUSS, Claude. Antropologia Estrutural. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003. p. 279-304.

LEVI-STRAUSS, Claude. O Pensamento Selvagem. 8. ed. Campinas: Papirus, 1989.

MALINOWSKI, Bronislaw. Argonautas do Pacífico Ocidental: um relato do empreendimento e da aventura dos nativos no arquipélago da Nova Guiné Melanésia. São Paulo: Abril Cultura, 1978. Coleção Os Pensadores.

MALYSSE, S. Entre Arte e Antropologia: diálogos e apropriações. Revista Avá, n. 9, p. 155-160, ago. 2006.

MORPHY, H. Ancestral connections: art and an aboriginal system of knowledge. Chicago: Chicago University Press, 1991.

MORPHY, H. The anthropology of art. INGOLD, T. (Org.). Companion encyclopedia of anthropology. Londres: Routledge, 1994. 648–85.

MOURA, Margarida Maria. Arte, cultura, língua. In: MOURA, Margarida Maria. Nascimento da antropologia cultural: a obra de Franz Boas. São Paulo: Hucitec, 2004. p. 291-369.

MOURA, Margarida Maria. Arte, cultura, língua. In: MOURA, Margarida Maria. Nascimento da antropologia cultural: a obra de Franz Boas. São Paulo: Hucitec, 2004. p. 291-369.

MULLER, A. M. Arte Kadiwéu: processos de produção, significação e ressignificação. Tese (Doutorado em Antropologia) - Universidade de Coimbra, Coimbra, 2018.

NIMUENDAJÚ, Curt. As lendas de criação e destruição do mundo como fundamento da religião dos Apapocuva-Guarani. São Paulo: Hucitec, 1987.

OVERING, J. A estética da produção: o senso de comunidade entre os Cubeo e os Piaroa. Revista de Antropologia, n. 34, p. 7-33, 1991.

PRATS, L. Antropología y Patrimonio. Barcelona: Ariel, 1997.

RIBEIRO, Darcy. Kadiwéu: ensaios etnológicos sobre o saber, o azar e a beleza. Petrópolis: Vozes, 1980.

SCHADEN, Egon. Aspectos fundamentais da cultura guarani. São Paulo: EDUSP, 1974.

SEVERI, Carlo. “Transmutating Beings: A Proposal for an Anthropology of Thought”. Hau, v. 4, n. 2, p. 41-71, 2014. DOI: https://doi.org/10.14318/hau4.2.003

SEVERI, Carlo. Le principe de la chimère. Paris: Rue d’Ulm; Musée du quai Branly, 2007. DOI: https://doi.org/10.4000/books.editionsulm.1039

SILVA, Maria Isabel Cardozo. Cosmologia, perspectivismo e agência social na arte ameríndia: estudo de três casos etnográficos. Dissertação (Mestrado em Antropologia)- Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2008.

SIMONI, A. T.; CARDOSO, G. R.; OLIVEIRA, L. P.; BULAMAH. R. C. Porcos e celulares: uma conversa com Marilyn Strathern sobre antropologia e arte. Trad. de Alessandra Tráldi Simoni e Guilherme Ramos Cardoso. Proa - Revista de Antropologia e Arte [on-line], ano 02, v. 01, n. 02, nov. 2010.

STRATHERN, Marilyn. Artefatos da história: os eventos e a interpretação das imagens. In: STRATHERN, Marilyn. O efeito etnográfico. Trad. de Iracema Dulley, Jamille Pinheiro e Luisa Valentini. São Paulo: Cosac Naify, 2014. p. 211-230.

STRATHERN, Marilyn. O efeito etnográfico. In: STRATHERN, Marilyn. O efeito etnográfico. Trad. de Iracema Dulley, Jamille Pinheiro e Luisa Valentini. São Paulo: Cosac Naify, 2014, p. 345-405.

TILLEY, C. (Org.). Reading material culture. Oxford: BasilBlackwell, 1990.

VIDAL, Lux. Grafismo Indígena: estudos de antropologia estética. São Paulo: Edusp e Studio Nobel, 2007.

WAGNER, Roy. The Invention of Culture. Chicago: University of Chicago Press, 1975.

Publicado
2020-05-10
Como Citar
ORTIZ, R. I. A histórica relação entre arte e antropologia. albuquerque: revista de história, v. 11, n. 22, p. 182-212, 10 maio 2020.