A histórica relação entre arte e antropologia
múltiplos olhares, dilemas e perspectivas
Resumo
Afim de tecer esta discussão é imprescindível corroborar que a arte tem sido um conceito, uma noção ou ainda uma categoria controversa para a teoria antropológica desde a sua formulação e (re)formulação e posterior engajamento epistemológico. Mediante isto, a Antropologia ficou muitas vezes entre o reconhecimento da singularidade cultural de objetos e práticas que não poderia qualificar como arte sem cair no etnocentrismo, reducionismo e esforço para compor tão amplas que incluem uma variedade de práticas humanas e não-humanas sobre os quadros comparativos da experiência estética. Para sair do espaço definido por estes dois discursos, Alfred Gell o principal propulsor da Antropologia da Arte moderna, sugeriu que a experiência da arte tem a ver com uma forma especial de atribuição de agência a objetos e imagens. Assim, podemos considerar que este fenômeno pode ser o ponto de partida para desenvolver uma verdadeira teoria antropológica da arte, construída sobre a especificidade e particularidade da disciplina e suas ferramentas conceituais. Por assim dizer, a abordagem levanta questões sobre a definição dos conceitos de agência, personalidade e materialidade que comprometem outras versões de análise crítica cultural. Portanto, o presente artigo buscar realizar uma investigação histórica do desenvolvimento da disciplina Antropologia da Arte, perpassando por diferentes teorias, tradições e perspectivas tendo como eixo propulsor a cultura material, arte e cosmologia Guarani de Mato Grosso do Sul.
Downloads
Referências
AGUIAR, R. L. S; PEREIRA, L. M. A universalidade da arte e a pesquisa da produção artística entre os povos indígenas em Mato Grosso do Sul. In: CHAMORRO, Graciela; COMBÈS, Isabelle (Org.). Povos indígenas em Mato Grosso do Sul: história, cultura e transformações sociais. Dourados, MS: Ed. UFGD, 2015. 934 p.
APPADURAI, A. The social life of things. Commodities in cultural perspective. Cambridge: Cambridge University Press, 1986. DOI: https://doi.org/10.1017/CBO9780511819582
ÅRHEM, Kaj. Makuna social organization. Uppsala: Academiae Ubsaliensis, 1981.
ATLAN, Henri. Conscience et désirs dans des systèmes auto-organisateurs. In: MORIN, Edgar; PIATELLI-PALMARINI, Massimo (Dir.). L’unité de L’homme: invariants biologiques et universaux culturels. Paris: Seuil, 1974. p. 449-465.
BOAS, Franz. El arte primitivo. Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica, 1947. p. 15-93.
BOAS, Franz. The formal element in art. In: BOAS, Franz. Primitive art. New York: Dover Publications, 1955. p. 17-63.
BRADLEY, R. Access, style and imagery: the audience for Prehistoric rock art in Atlanc Spain and Portugal, 4.000-2.000 BC. Oxford Journal of Archaeology, v. 21, n. 3, p. 231-247, dec. 2002. DOI: https://doi.org/10.1111/1468-0092.00160
BRAUN, Barbara. Pre-Columbian art and the post-Columbian world: ancient American sources of modern art. Nova York: Harry N. Abrams Publishing, 1993.
CADOGAN, León. Ayvu Rapyta. Textos místicos de los Mbya- Guaraní del Guairá - Capítulo I: Maino i rekoy pykue, las primitivas costumbresdel Colibrí. Revista de Antropologia, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 35- 42, 1953.
CASTRO, E. B. Viveiros de. A Inconstância da Alma Selvagem e Outros Ensaios de Antropologia. São Paulo: Cosac & Naify, 2002. 552 p.
CASTRO, E. B. Viveiros de. Os Pronomes Cosmológicos e o Perspectivismo Ameríndio. Mana, Rio de Janeiro, v. 2, p. 115-144, out. 1996. DOI: https://doi.org/10.1590/S0104-93131996000200005
CESARINO, Pedro. Conflitos de pressupostos na Antropologia da Arte: relações entre pessoas, coisas e imagens. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 32, n. 93, 2017. DOI: https://doi.org/10.17666/329306/2017
CLIFFORD, James. The predicament of culture. Cambridge: Harvard University Press, 1988. DOI: https://doi.org/10.2307/j.ctvjf9x0h
DAMATTA, Roberto. Relativizando: uma introdução à antropologia social. Petrópolis: Vozes, 1981.
DESCOLA, Philippe. "Ecologia e cosmologia." Etnoconservação: novos rumos para a proteção da natureza nos trópicos. São Paulo: Hucitec, 2000. p. 149-164.
DESCOLA, Philippe. “L’envers du visible: ontologie et iconologie”. In: TAYLOR, A. C.; DUFRÊNE, Th. (Ed.). Cannibalismes disciplinaires: quand l’histoire de l’art et l’anthropologie se rencontrent. Paris: Musée du quai Branly/INHA, 2010. p. 25-37.
ESPINOSA, M. F. Los patrimonios, el pan y la sal de nuestros días. Quito: Ministerio Coordinador del Patrimonio, 2013.
FAUSTO, Carlos. A máscara do animista: Quimeras e bonecas russas na América indígena. In: SEVERI, C.; LAGROU, E. (Ed.). Quimeras em diálogo: Grafismo e figuração na arte indígena. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2013. p. 305-331.
FILLITZ, Thomas. The Biennial of Dakar and South-South Circulations. Artl@s Bulletin, v. 5, Issue 2, 2016.
GAMBLE, C. Archaeology: the basics. Londres: Routledge, 2001.
GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos Editora S.A., 1989.
GEERTZ, Clifford. El antropólogo como autor. Barcelona: Padiós Studio, 1989.
GEERTZ, Clifford. O saber local: novos ensaios em antropologia interpretativa. Petrópolis: Vozes, 2000.
GELL, A. Art and agency: anthropological theory. Oxford: Oxford University Press, 1998.
GRABURN, N. H. H. Ethnic and Tourist Arts: Cultural expressions from the fourth world. University of California Press, 1976.
HASELBERGER, Herta. Method of Studying Ethnological Art. Current Anthropology, v. 2, n. 4, p. 341-384, 1961. DOI: https://doi.org/10.1086/200209
HOSKINS, J. Agency, Biography and Objects. In: TILLER, C. et al. Hand of Material Culture (Ed.). London: Sage pub, 2005. p. 74-84.
INGOLD, Tim. Making: Anthropology, Archaeology, Art and Architecture. London: Routledge, 2013. DOI: https://doi.org/10.4324/9780203559055
IVARRA ORTIZ, R. Guiando Espíritos, Sonhos e Memórias: Objetos Sagrados entre os Guarani de Mato Grosso do Sul, Brasil. Mundo Amazónico, v. 10, n. 2, p. 137-164, 2019. DOI: http://dx.doi.org/10.15446/ma.v10n2.84754.
KASFIR, S. L. Samburuso uvenirs – representations of a land in amber. In: PHILLIPS, Ruth; STEINER, Christopher. Unpacking Culture – artand commodity in colonial andpost-colonial worlds. Berkeley: California University Press, 1999.
KOPENAWA, Davi; ALBERT, Bruce. A queda do céu: palavras de um xamã Yanomami. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. 730 p.
KOPYTOFF, Igor. A biografia cultural das coisas: a mercantilização como processo. In: APPADURAI, Arjun (Org.). A vida social das coisas. As mercadorias sob uma perspectiva cultural. Niterói: EDUFF, 2008.
KROEBER, Alfred. “Art”. In: STEWARD, J. (Ed.). Handbook of South American Indians. Washington: Smithsonian Institution; Bureau of American Ethnology, 1949. p. 411-492.
LAGROUS, Els. Arte ou artefato? Agência e significado nas artes indígenas. Revista Proa, n. 02, 2010.
LATOUR, B. Laboratory Life: The Construction of Scientific Facts. Princeton: PUP, 1979.
LAYTON, R. The Anthropology of Art. Cambridge: Cambridge University Press, 1991.
LEROI-GOURHAN, A. Préhistoire de l ’Art Occidental. Paris: Mazenod, 1965.
LEVI-STRAUSS, Claude. Antropologia Estrutural. 4. ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003.
LÉVI-STRAUSS, Claude. O desdobramento da representação nas artes da Ásia e da América. In: LÉVI-STRAUSS, Claude. Antropologia Estrutural. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003. p. 279-304.
LEVI-STRAUSS, Claude. O Pensamento Selvagem. 8. ed. Campinas: Papirus, 1989.
MALINOWSKI, Bronislaw. Argonautas do Pacífico Ocidental: um relato do empreendimento e da aventura dos nativos no arquipélago da Nova Guiné Melanésia. São Paulo: Abril Cultura, 1978. Coleção Os Pensadores.
MALYSSE, S. Entre Arte e Antropologia: diálogos e apropriações. Revista Avá, n. 9, p. 155-160, ago. 2006.
MORPHY, H. Ancestral connections: art and an aboriginal system of knowledge. Chicago: Chicago University Press, 1991.
MORPHY, H. The anthropology of art. INGOLD, T. (Org.). Companion encyclopedia of anthropology. Londres: Routledge, 1994. 648–85.
MOURA, Margarida Maria. Arte, cultura, língua. In: MOURA, Margarida Maria. Nascimento da antropologia cultural: a obra de Franz Boas. São Paulo: Hucitec, 2004. p. 291-369.
MOURA, Margarida Maria. Arte, cultura, língua. In: MOURA, Margarida Maria. Nascimento da antropologia cultural: a obra de Franz Boas. São Paulo: Hucitec, 2004. p. 291-369.
MULLER, A. M. Arte Kadiwéu: processos de produção, significação e ressignificação. Tese (Doutorado em Antropologia) - Universidade de Coimbra, Coimbra, 2018.
NIMUENDAJÚ, Curt. As lendas de criação e destruição do mundo como fundamento da religião dos Apapocuva-Guarani. São Paulo: Hucitec, 1987.
OVERING, J. A estética da produção: o senso de comunidade entre os Cubeo e os Piaroa. Revista de Antropologia, n. 34, p. 7-33, 1991.
PRATS, L. Antropología y Patrimonio. Barcelona: Ariel, 1997.
RIBEIRO, Darcy. Kadiwéu: ensaios etnológicos sobre o saber, o azar e a beleza. Petrópolis: Vozes, 1980.
SCHADEN, Egon. Aspectos fundamentais da cultura guarani. São Paulo: EDUSP, 1974.
SEVERI, Carlo. “Transmutating Beings: A Proposal for an Anthropology of Thought”. Hau, v. 4, n. 2, p. 41-71, 2014. DOI: https://doi.org/10.14318/hau4.2.003
SEVERI, Carlo. Le principe de la chimère. Paris: Rue d’Ulm; Musée du quai Branly, 2007. DOI: https://doi.org/10.4000/books.editionsulm.1039
SILVA, Maria Isabel Cardozo. Cosmologia, perspectivismo e agência social na arte ameríndia: estudo de três casos etnográficos. Dissertação (Mestrado em Antropologia)- Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2008.
SIMONI, A. T.; CARDOSO, G. R.; OLIVEIRA, L. P.; BULAMAH. R. C. Porcos e celulares: uma conversa com Marilyn Strathern sobre antropologia e arte. Trad. de Alessandra Tráldi Simoni e Guilherme Ramos Cardoso. Proa - Revista de Antropologia e Arte [on-line], ano 02, v. 01, n. 02, nov. 2010.
STRATHERN, Marilyn. Artefatos da história: os eventos e a interpretação das imagens. In: STRATHERN, Marilyn. O efeito etnográfico. Trad. de Iracema Dulley, Jamille Pinheiro e Luisa Valentini. São Paulo: Cosac Naify, 2014. p. 211-230.
STRATHERN, Marilyn. O efeito etnográfico. In: STRATHERN, Marilyn. O efeito etnográfico. Trad. de Iracema Dulley, Jamille Pinheiro e Luisa Valentini. São Paulo: Cosac Naify, 2014, p. 345-405.
TILLEY, C. (Org.). Reading material culture. Oxford: BasilBlackwell, 1990.
VIDAL, Lux. Grafismo Indígena: estudos de antropologia estética. São Paulo: Edusp e Studio Nobel, 2007.
WAGNER, Roy. The Invention of Culture. Chicago: University of Chicago Press, 1975.
Copyright (c) 2019 albuquerque: revista de história
![Creative Commons License](http://i.creativecommons.org/l/by-nc-nd/4.0/88x31.png)
This work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License.
Direitos Autorais para artigos publicados neste periódico são todos cedidos à revista. As opinições e pontos de vista presentes nos artigos são de responsabilidade de seus/suas autores/as e não representam, necessariamente, as posições e visões de albuquerque: revista de história.