Depois de todas as temáticas abordadas pelos Cadernos de Estudos Culturais (ISSN: 2763-888X) — 1º volume: Estudos culturais (abril de 2009); 2º volume: Literatura comparada hoje (setembro de 2009); 3º volume: Crítica contemporânea (abril de 2010); 4º volume: Crítica biográfica (setembro de 2010); 5º volume: Subalternidade (abril de 2011); 6º volume: Cultura local (dezembro de 2011); 7º volume: Fronteiras culturais (abril de 2012); 8º volume: Eixos periféricos (dezembro de 2012); 9º volume: Pós-colonialidade (abril de 2013); 10º volume: Memória cultural (dezembro de 2013); 11º volume: Silviano Santiago: uma homenagem (abril de 2014); 12º volume: Eneida Maria de Souza: uma homenagem (dezembro de 2014); 13º volume: Povos indígenas (abril de 2015); 14º volume: Brasil\Paraguai\Bolívia (dezembro de 2015) — os CADERNOS DE ESTUDOS CULTURAIS voltam-se para OCIDENTE\ORIENTE: MIGRAÇÕES, por entender que o mundo neste século 21, como nunca antes, ilustra na realidade a condição de fora do lugar, de atravessamento, de fronteira, na qual se encontram milhares de pessoas. Perseguidos, foragidos, ou tangidos pela miséria humana, cidadãos do mundo inteiro transitam por todos os lados e lugares: quer seja dentro do próprio Ocidente, quer seja do Oriente para o Ocidente, quer seja dentro dos próprios países – famílias, para não dizer povos inteiros, simplesmente migram, deixando para trás sua história, sua cultura, seu lugar geoistórico de sobrevivência. Se, como nunca antes visto, as fronteiras internas e externas são o rumo (in)certo de todos os migrantes, na tentativa de um atravessamento sem fim, por outro lado, as fronteiras todas se tornaram, cada vez mais, um limite intransponível para todos. Vários estudos, na atualidade, têm tratado de forma cuidadosa e singular dessa questão, que é histórica, política e cultural. Aqui destaco os estudos pós-ocidentais ou fronteiriços que, num crescendo e cada vez mais, têm se debruçado sobre esses sujeitos atravesados e suas reais condições subalternas, que se debatem numa exterioridade para sempre ignorada. A fronteira-sul, que compreende o estado de Mato Grosso do Sul (Brasil) e os países lindeiros Paraguai e Bolívia, ilustra tal discussão. Por ela, além de transitarem forasteiros, pistoleiros e contrabandistas, além de sem terras e trabalhadores que vivem em suas bordas, também presenciamos a luta diária de bolivianos desempregados que se lançam fronteira afora na tentativa de alcançar os grandes centros, como a cidade de São Paulo. Também é porto de passagem de haitianos e demais povos que procuram entrar no país pela porta dos fundos. Se o que temos na realidade é essa condição degradante e triste, na qual humanos simplesmente se aventuram para um lugar desconhecido, no plano de uma discussão teórica e crítica só nos resta pensar e propor uma epistemologia outra, como a fronteiriça, como forma de, assim, melhor atingir e compreender essa realidade outra que se narra a partir de sua específica exterioridade, pouco importando que essa exterioridade tenha sido criada por uma interioridade que a ignorou por todo a extensão do pensamento moderno ocidental. Todas as temáticas publicadas pelos CADERNOS DE ESTUDOS CULTURAIS (desde 2009), como se pode ver acima, vêm sinalizando acerca da importância de se privilegiar o que é da ordem da exterioridade do pensamento moderno ocidental. Os textos deste volume tratam da importância de se deter na temática proposta, especificamente porque estéticas e epistemologias contemporâneas demandam um descentramento dos postulados discursivos assentados tão somente no olhar acadêmico e disciplinar. Já é um consenso de que há uma plêiade de intelectuais periféricos produzindo ou articulando uma epistemologia outra como forma de, entre outros propósitos, barrar aquelas velhas teorias estetizantes e abstratas ainda declinadas do grego e do latim. Cabe-me a feliz tarefa de agradecer a todos os autores que aceitaram participar deste volume, enriquecendo-o com seu ensaio. Agradeço, também, aos editores-assistentes Marcos Antônio Bessa-Oliveira e José Francisco Ferrari, que não medem esforços para que os CADERNOS venham a público, bem como a todos da COMISSÃO ORGANIZADORA e MEMBROS do NECC. Gratidão traduz o que todos os neccenses sentimos pelos ilustres pesquisadores deste volume, sem os quais a temática proposta não seria possível para a realização deste número que entra para a história da crítica cultural quando o assunto for OCIDENTE\ORIENTE: MIGRAÇÕES.
Edgar Cézar Nolasco