Designativos para "gambá" no Brasil Central: um estudo a partir da aplicabilidade da teoria dos interpretantes de Charles s. Peirce

  • Daniela de Souza Silva Costa Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

Abstract

Tendo em vista que “qualquer coisa pode ser analisada semioticamente” (SANTAELLA, 2002, p. 11), esta proposta de análise pretende cotejar dados geolinguísticos sob a perspectiva da Semiótica peirciana, especialmente no tocante à Teoria dos Interpretantes de Peirce, com vistas a buscar compreender como se dá o processo mental de designação do “bicho que solta um cheiro ruim quando se sente ameaçado” (Pergunta 71/Questionário Linguístico/Projeto Atlas Linguístico do Brasil/2001) por parte dos habitantes da região Centro-Oeste brasileira. A metodologia utilizada tem seu aporte teórico orientado pela Semântica, além das classificações dos signos e sua relação com o interpretante, advindas da Semiótica norteamericana. A análise revelou o uso de cinco variantes lexicais para designar o conceito em questão: gambá, mucura, raposa, mixila e jaratataca e evidenciou que gambá e mucura nomeiam o mesmo animal, diferentemente das demais designações, o que teve seu estudo favorecido pelo conceito de legi-signo simbólico remático de Peirce e pela perspectiva de análise centrada no interpretante dinâmico, uma vez que este revela a dimensão psicológica do interpretante, demonstrando como a generalização da norma age efetivamente em cada intérprete. Nesse contexto, percebe-se que os habitantes do Brasil Central responderam jaratataca para a pergunta em questão, o que, apesar de não nomear o mesmo animal, atende aos semas requeridos, demonstrando a aplicabilidade da teoria por este texto adotada. Com isso, pode-se concluir que o estudo da Semiótica auxilia na compreensão de fenômenos linguísticos, elucidando questões por vezes para-além das teorias linguísticas.

References

ALINCOURT. Luis d’. Memória sobre a viagem do porto de Santos à cidade de Cuiabá. Belo Horizonte: Editora Itatiaia; São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1975.

BIDERMAN, Maria Tereza de Camargo. As ciências do léxico. In: OLIVEIRA, Ana Maria Pinto Pires de; ISQUERDO, Aparecida Negri (Orgs). As ciências do léxico. Lexicologia, Lexicografia, Terminologia. 2a ed. Campo Grande: EDUFMS, 2001. P 11-20.

BIDERMAN, Maria Tereza de Camargo. A estrutura mental do léxico. In: BIDERMAN, Maria Tereza de Camargo. Estudos de filologia e lingüística. Homenagem a Isaac Nicolau Salum. São Paulo: T. A. Queiroz/Edusp, 1981, p. 131-145.

BIDERMAN, Maria Tereza de Camargo. Teoria linguística: lingüística quantitativa e computacional. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1978.

CARDOSO, Suzana Alice Marcelino da Silva et al. Atlas Linguístico do Brasil. 2v. Londrina: EDUEL, 2014.

COMITÊ NACIONAL DO PROJETO ALIB. Atlas lingüístico do Brasil: questionário 2001. Londrina: Eduel, 2001.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, Versão 5.0, Curitiba: Editora Positivo, 2004.

GHIZZI, Eluiza Bortolotto. Introdução à Semiótica Filosófica de Charles S. Peirce. Texto de apoio didático. Revisado. Campo Grande: UFMS, 2009. Disponível em: http://pt.scribd.com/doc/59475133/LEITURA-COMPLEMENTAR-Semiotica-filosofica-introducao. Acesso em: 05 dez 2014.

HOUAISS, Antônio. Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa, versão 1.0. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2001.

IBGE. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1>. Acesso em: 07 ago 2014.

LARA, Luis Fernando. Teoria del diccionario monolíngüe. México: Centro de Estudos Linguísticos & Literários, 1996.

LUCCHESI, Dante. Sistema, mudança e linguagem: um percurso da linguística neste século. Lisboa: Colibri Artes gráficas, 1998.

MELO, Gladstone Chaves de. A língua do Brasil. 4a ed. Melhorada e aumentada. Rio de Janeiro: Padrão, 1981.

NAVARRO, Eduardo de Almeida. Método moderno do tupi antigo: a língua do Brasil nos primeiros séculos. Petrópolis: Vozes, 1998.

NÖTH, Winfried. Panorama da Semiótica: de Platão a Peirce. São Paulo: Annablume, 1995.

PEIRCE, Charles Sanders. Semiótica. 2 ed. São Paulo: Perspectiva, 1995.

QUEIROZ, Paulo Roberto Cimó. Temores e esperanças: o antigo sul de Mato Grosso e o Estado Nacional brasileiro. In: MARIN, Jérri Roberto; VASCONCELOS, Cláudio Alves de (Orgs). História, região e identidades. Campo Grande: Editora UFMS, 2003, p.19-46.

SAMPAIO, Theodoro. O tupi na geographia nacional. Salvador: Secção Graphica da Escola de Aprendizes Artificies, 1928.

SANTAELLA, Lucia. Semiótica Aplicada. São Paulo: Pioneira/ Thompson Learning, 2002.

SANTAELLA, Lucia. A teoria geral dos signos: como as linguagens significam as coisas. 2a ed. São Paulo: Pioneira, 2000.

SANTAELLA, Lucia. A Teoria Geral dos Signos: Semiose e Autogeração. São Paulo: Ática, 1995.

SANTAELLA, Lucia. Peirce’s Semioses and the Logic of Evolution. In: Signs of humanity l’homme et ses signens. Mouton de Gruyter, 1992.

SILVA, Augusto Soares da. A semântica de deixar. Uma contribuição para a abordagem cognitiva em semântica lexical. Portugal: Ministério da Ciência e da Tecnologia, 1999.

How to Cite
Costa, D. de S. S. (1). Designativos para "gambá&quot; no Brasil Central: um estudo a partir da aplicabilidade da teoria dos interpretantes de Charles s. Peirce. Papéis: Revista Do Programa De Pós-Graduação Em Estudos De Linguagens - UFMS , 18(35), 34-50. Retrieved from https://periodicos.ufms.br/index.php/papeis/article/view/3008
Section
Artigos - Linguística e Semiótica