Do lixo à poesia: o projeto cartonero na difusão do portunhol selvagem de Douglas Diegues
Abstract
Este estudo faz uma reflexão sobre a edição cartonera na difusão da obra em portunhol selvagem do poeta sul-mato-grossense Douglas Diegues. Os projetos cartoneros são elaborados por editoras ou cooperativas que produzem obras literárias com materiais provindos do lixo, em edição limitada, de aspecto artesanal e artístico. As capas dos livros são de papelão recolhido pelas ruas, recortadas e pintadas à mão, uma a uma. Essas obras de roupagem cartonera se revestem de aspecto marginal e trazem forte carga simbólica ao vincular a cultura do lixo com a cultura letrada. Procura-se também desvendar algumas características dessa linguagem transfronteiriça e analisar e discutir seus aspectos simbólicos e culturais, uma vez que as edições cartoneras dão novos sentidos a uma literatura de contornos bem próprios de uma tendência literária contemporânea de caráter híbrido. Em consonância com essa proposta de marginalidade, o portunhol selvagem mescla as línguas portuguesa, espanhola e guarani e emerge em sua forma híbrida e mestiça como uma língua anárquica, irônica e engajada, situando-se acima dos espaços geográficos e culturais. A produção de Diegues traduz desobediência à língua padrão e, sobretudo, uma experimentação de amalgamar o português, o espanhol e, também, o guarani em uma única língua. Em linguagem extravagante e chula, Douglas Diegues apresenta uma conjunção de identidades – europeia, indígena, brasileira – em uma tentativa de apropriação das mais variadas culturas da região. As edições cartoneras permitem ao portunhol um aspecto diferenciado e inusitado, rompendo os padrões convencionais de veiculação editorial tradicional da contemporaneidade.
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