O não lugar da mulher na atenção primária

Resumo

Este trabalho tenta aproximar-se da complexidade inerente à interseção entre Saúde Mental, Gênero e Violência através do entrelaçamento de olhares advindos da Psicanálise, da Saúde Pública, da Sociologia e da Filosofia. A hipótese sustentada a partir desta articulação de saberes é que o não lugar da fala na Atenção Primária expressa-se como uma violência institucional que toca, principalmente, as mulheres. Neste sentido, traçam-se três teses que se articulam e se reforçam mutuamente: 1) Não há espaço para fala na Atenção Primária do SUS; 2) A mulher, por sua posição na história das sociedades do Ocidente, tem sido sobrecarregada de papéis, o que gera uma identidade que aprisiona e faz sofrer; 3) A violência contra a mulher vincula-se à lógica da dominação que se entranha nas regras, nos valores e nas ideias que estruturam as instituições públicas e privadas. Como proposta para lidar com os problemas levantados, advoga-se pela adoção de uma epistemologia e de uma ética capazes de superar dualismos rasos e os resquícios da dominação masculina que atravessa e molda a sociedade e as instituições de saúde.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Camilla Araújo Lopes Vieira, Universidade Federal do Ceará (UFC)

Doutora em Saúde Coletiva pela Universidade Federal do Ceará (UFC), professora da Universidade Federal do Ceará / Campus Sobral.

Rita Helena Sousa Ferreira Gomes, Universidade Federal do Ceará (UFC)

Doutora em Filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), professora da Universidade Federal do Ceará / Campus Sobral.

Deborah Christina Antunes, Universidade Federal do Ceará (UFC)

Doutora em Filosofia pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), professora da Universidade Federal do Ceará / Instituto de Cultura e Arte / Programa de Pós-Graduação em Psicologia.

Francisca Denise Silva do Nascimento, Universidade Federal do Ceará (UFC)

Doutora em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), professora da Universidade Federal do Ceará / Campus Sobral.

Referências

BASAGLIA, Franca. Mujer, Sociedad y Locura. Puebla: Universidade Auto-noma de Puebla, 1991.

BIGNOTTO, Newton. Entre o público e o privado. In DOMINGUES, Ivan; PIN-TO, Paulo Margutti.; DUARTE, Rodrigo (Orgs.). Ética, política e cultura. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002.

BRASIL, MINISTÉRIO da SAÚDE. Carta dos direitos dos usuários da saú-de / Ministério da Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2012.

CHAUÍ, Marilena. Participando do debate sobre mulher e violência. In: CHAUÍ, Marilena; CARDOSO, Ruth; PAOLI, Maria Célia (Orgs.). Perspectivas antro-pológicas da Mulher. Rio de Janeiro: Zahar. 1985.

CONSELHO Nacional de Justiça. Formas de violência. Disponível em: http://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/lei-maria-da-penha/formas-de-violencia, s/d. Acesso em: 18 abr. 2021.

DURKHEIM, ÉMILE. A divisão do trabalho social. São Paulo: Martins Fon-tes, 1999.

FARIAS, ISABELA Cedro; VIEIRA, Camilla Araújo Lopes. Encaminhamentos da atenção básica a uma clínica-escola de psicologia. Revista Psicologia e Sa-úde, Campo Grande, v. 14, n. 1, p. 157-169, jan./mar. 2022. Disponível em: http://dx.doi.org/10.20435/pssa.v14i1.1273 Acesso em: 22 ago. 2022.

FARIAS, Isabela Cedro; ALVES, Samara Vasconcelos; VIEIRA, Camilla Araújo Lopes; FURTADO, Luis Achilles Rodrigues; LIMA; Aluísio Ferreira de. “Médico disse que era só psicológico”: analisando o lugar da psicologia no campo da saúde. Estudos & Pesquisas em Psicologia, Rio de Janeiro, v. 21, n. 3, set./dez. 2021, p. 1127-1143. Disponível em: https://www.epublicacoes.uerj.br/index.php/revispsi/article/view/62731/39408 Acesso em: 22 ago. 2022.

FREUD, Sigmund. Caminhos da terapia Psicanalítica. In: Freud – Obras Com-pletas. São Paulo: Companhia das Letras, 1919. In. FREUD, Sigmund. 1856-1939. História de uma neurose infantil: (“O homem dos lobos”): além do princípio do prazer e outros textos (1917-1920)/ Tradução e notas Paulo César de Souza, São Paulo: Compa-nhia das Letras, 2010.

GOMES, Romeu. et al. Os homens não vêm! Ausência e/ou invisibilidade mas-culina na atenção primária. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 16, supl. 1, p. 983-992, abr. 2011. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1413-81232011000700030 Acesso em: 22/08/22.

HOFLING, Eloisa de Matos. Estado e políticas (públicas) sociais. Cadernos CEDES, Campinas, v. 21, n. 55, p. 30-41, nov. 2001. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S0101-32622001000300003. Acesso em: 13/04/16.

HORKHEIMER, Max; Adorno, Theodor Wiesengrund. Dialética do esclareci-mento: fragmentos filosóficos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985.

KANT, Immanuel. Resposta à pergunta: que é esclarecimento? (Aufklärung) In: Immanuel Kant. Textos seletos. Rio de Janeiro: Vozes, 2008.

LANE, Silvia Tatiana Maurer; SAWAIA, Bader Burihan (Orgs.). Novas vere-das da Psicologia Social. São Paulo: Brasiliense/Educ, 1994.

MARTINS, José de Souza. Uma sociologia da vida cotidiana. São Paulo: Contexto, 2014.

MINAYO, Maria Cecília de Souza. Conceitos, teorias e tipologias de violência: a violência faz mal à saúde. In: NJAINE, Kathie; ASSIS, Simone Gonçalves de; CONSTANTINO, Patricia (Org.). Impactos da violência na saúde. Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz; Educação à distância da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca, 2009.

MORENO, Gabriela Mendes Batista; SOARES, Maria Teresa Queiros Santos; PAGANI, Rosani; FARIAS, Adriano Melo de; SCORSAFAVA, Andréa Torquato; SIMÃO; Vivian Santos; BRANDÃO, Israel Rocha Brandão. A inserção da Psico-logia na Estratégia Saúde da Família em Sobral/CE (relato de experiência), Sanare, Sobral, v. 5, n. 1, p. 77- 84, 2004. Disponível em: <http://sanare.emnuvens.com.br/sanare/article/view/125&gt; Acesso em: 18 jun. 2021.

PAIM, Jairnilson Silva. SUS: Sistema Único de Saúde: tudo o que você precisa saber. Rio de Janeiro: Ed. Atheneu. 2019.

PRIORE, Mary Del; PINSKY, Carla Bassanezi. História das mulheres no Brasil. 10ª ed. São Paulo: Contexto, 2012.

REIS, Margareth de Mello Ferreira dos. Mulher: produto com data de valida-de. São Paulo: O nome da Rosa, 2002.

SCLIAR, Moacyr. História do conceito de saúde. PHYSIS: Rev. Saúde Coleti-va, Rio de Janeiro, v.1, n. 17, p. 29-41, 2007.

VILASBÔAS, Ana Luiza. Modelos de Atenção. In: PAIM, Jairnilson Silva (Org.) SUS: Sistema Único de Saúde: tudo o que você precisa saber. Rio de Janeiro: Ed. Atheneu, 2019.

Publicado
2023-06-17
Como Citar
Vieira, C. A. L., Gomes, R. H. S. F., Antunes, D. C., & Nascimento, F. D. S. do. (2023). O não lugar da mulher na atenção primária. Perspectivas Em Diálogo: Revista De Educação E Sociedade, 10(23), 179-191. https://doi.org/10.55028/pdres.v10i23.16598