Infâncias e epistemologias contra-hegemônicas: decolonialidade e interseccionalidade
Resumo
O artigo tem como objetivo debater contribuições teórico-metodológicas para os estudos das infâncias, sob uma perspectiva decolonial e interseccional, partindo da ideia de que, também para os estudos da infância, é necessário um movimento de insubmissão que faça crítica às bases epistêmicas coloniais. Dessa forma, analisa um conjunto de três pesquisas — duas concluídas e uma com resultados parciais — de um grupo de pesquisadoras vinculadas a universidades públicas localizadas nas regiões Sudeste e Nordeste do país, que articulam o projeto interinstitucional Infâncias e epistemologias contra-hegemônicas: decolonialidade e interseccionalidade. Nessa direção, serão apresentados os princípios que compuseram, no tempo-espaço dessas pesquisas, a ampliação de possibilidades de uma metodologia contra-hegemônica, sustentada por uma rede que compõe nossas memórias, corpos, saberes e ancestralidades. Os estudos apresentam referenciais que caminham entre as teorias decoloniais e o feminismo negro, permitindo construções teóricas inovadoras, no sentido de garantir que a interseccionalidade entre raça, gênero, etnia, idade, classe e deficiência não se apresentem de forma hierárquica, mas como relações que compõem as experiências das pessoas, atravessando suas vidas de formas muito distintas. Do ponto de vista metodológico, são delineadas propostas nas quais os conhecimentos são produzidos em parceria, respeitando a autonomia de pensamento, imaginação e criação do outro.
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