Do fazer ao ser
o percurso do sujeito pelo domínio afetivo da educação
Résumé
Este trabalho propõe descrever um recorte do esquema subjacente à proposta pedagógica criada por Bloom, Krathwohl e Masia (1972), a fim de melhor explicitar, a partir da perspectiva semiótica, uma peculiaridade do domínio afetivo da educação: o foco no ser do sujeito no lugar de sua competência. Bloom, Krathwohl e Masia propõem uma taxonomia de objetivos socioafetivos como esquema global que possui cinco etapas encadeadas. A análise delimitou-se em duas das cinco etapas: a segunda e a terceira, visto que essas etapas evidenciam a transição de um sujeito da busca modalizado pelo dever para um sujeito identitariamente marcado por um intenso desejo e uma crença em um dado objeto como fundamental para o seu ser. Considera-se, na esteira de Fontanille (2008), que os avanços atuais da área permitem a descrição desse objeto por meio de um esquema semiótico que prevê a articulação das dimensões da ação e da paixão integradas com a mobilização de objetos-valor, que adentram o campo de presença do educando, por meio da prática semiótica do ensino-aprendizagem. Para tal empreitada, serão utilizados os conceitos de tensividade, campo de presença, esquema semiótico e modos de existência (Fontanille; Zilberberg, 2001; Fontanille, 2008; Tatit, 2019). Nesse sentido, nosso trabalho observa que, na passagem dos referidos níveis o sujeito vai, pouco a pouco, integrando as modalidades do fazer com as modalidades do ser, vivenciado assim o inverso do percurso para a ação: primeiro o contrato, calcado no crer; em seguida as modalidades virtualizantes; e por último as atualizantes, que não entram em questão nos níveis analisados da taxonomia do domínio afetivo. Há uma inversão na ordem das modalidades que sugere uma peculiaridade do domínio afetivo da educação: em uma perspectiva afetiva, as modalidades ligadas à paixão deixam de ser um meio para se tornar um fim, pois o foco é a instauração do querer e do crer em si, a intensidade e quantidade da modalidade, a maneira como ela se correlaciona com a identidade do sujeito em um campo de presença. Concluímos, então, que, no domínio afetivo da educação, o importante não é exatamente levar o sujeito à ação, mas modificar a sua relação (juntiva, modal e sensível) com o mundo. É uma semiótica do ser, não do fazer, um percurso modal "invertido".
Références
BLOOM, Benjamin S.; KRATHWOHL, David R.; MASIA, Bertram B.. Taxionomia de objetivos educacionais: domínio afetivo. Porto Alegre: Globo e Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 1972.
CRUZ, Dilson Ferreira da. Algumas considerações sobre o crer e o saber. Estudos Semióticos, [s.l.], n. 4, p. 1-9, 7 dez. 2008. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/esse/article/view/49200. Acesso em: 14 set. 2023.
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FONTANILLE, Jacques. Semiótica do Discurso. São Paulo: Contexto, 2008.
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TATIT, L. Passos da semiótica tensiva. Cotia: Ateliê Editorial, 2019.
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