Do fazer ao ser

o percurso do sujeito pelo domínio afetivo da educação

  • Paulo Ricardo Sousa de Oliveira Secretaria de Educação da Prefeitura de Fortaleza - SME
  • Carolina Lindenberg Lemos Universidade Federal do Ceará https://orcid.org/0000-0003-0114-2548
Palavras-chave: Semiótica; Educação; Domínio Afetivo da Educação

Resumo

Este trabalho propõe descrever um recorte do esquema subjacente à proposta pedagógica criada por Bloom, Krathwohl e Masia (1972), a fim de melhor explicitar, a partir da perspectiva semiótica, uma peculiaridade do domínio afetivo da educação: o foco no ser do sujeito no lugar de sua competência. Bloom, Krathwohl e Masia propõem uma taxonomia de objetivos socioafetivos como esquema global que possui cinco etapas encadeadas. A análise delimitou-se em duas das cinco etapas: a segunda e a terceira, visto que essas etapas evidenciam a transição de um sujeito da busca modalizado pelo dever para um sujeito identitariamente marcado por um intenso desejo e uma crença em um dado objeto como fundamental para o seu ser. Considera-se, na esteira de Fontanille (2008), que os avanços atuais da área permitem a descrição desse objeto por meio de um esquema semiótico que prevê a articulação das dimensões da ação e da paixão integradas com a mobilização de objetos-valor, que adentram o campo de presença do educando, por meio da prática semiótica do ensino-aprendizagem. Para tal empreitada, serão utilizados os conceitos de tensividade, campo de presença, esquema semiótico e modos de existência (Fontanille; Zilberberg, 2001; Fontanille, 2008; Tatit, 2019). Nesse sentido, nosso trabalho observa que, na passagem dos referidos níveis o sujeito vai, pouco a pouco, integrando as modalidades do fazer com as modalidades do ser, vivenciado assim o inverso do percurso para a ação: primeiro o contrato, calcado no crer; em seguida as modalidades virtualizantes; e por último as atualizantes, que não entram em questão nos níveis analisados da taxonomia do domínio afetivo. Há uma inversão na ordem das modalidades que sugere uma peculiaridade do domínio afetivo da educação: em uma perspectiva afetiva, as modalidades ligadas à paixão deixam de ser um meio para se tornar um fim, pois o foco é a instauração do querer e do crer em si, a intensidade e quantidade da modalidade, a maneira como ela se correlaciona com a identidade do sujeito em um campo de presença. Concluímos, então, que, no domínio afetivo da educação, o importante não é exatamente levar o sujeito à ação, mas modificar a sua relação (juntiva, modal e sensível) com o mundo. É uma semiótica do ser, não do fazer, um percurso modal "invertido".

Biografia do Autor

Paulo Ricardo Sousa de Oliveira, Secretaria de Educação da Prefeitura de Fortaleza - SME

Paulo Ricardo Sousa de Oliveira nasceu em Fortaleza-CE. Graduou-se em Letras Português pela Universidade Federal do Ceará e posteriormente obteve mestrado em Linguística no Programa de Pós-Graduação em Linguística da mesma instituição.

Sua dissertação de mestrado foi desenvolvida na linha de pesquisa de Práticas Discursivas e Estratégias de Textualização, com foco na área de semiótica e educação.

Atualmente, Paulo Ricardo atua como professor de português no ensino fundamental 2 na Prefeitura de Fortaleza. Fora da sala de aula, mantém-se engajado em projetos de pesquisa e extensão, buscando contribuir para o avanço da educação linguística em sua comunidade e além dela.

Referências

BARROS, Diana Luz Pessoas de. Teoria do discurso: fundamentos semióticos. São Paulo: Atual, 1988.
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TATIT, L. Passos da semiótica tensiva. Cotia: Ateliê Editorial, 2019.
Publicado
2024-06-26
Como Citar
Sousa de Oliveira, P. R., & Carolina Lindenberg Lemos. (2024). Do fazer ao ser. Papéis: Revista Do Programa De Pós-Graduação Em Estudos De Linguagens - UFMS , 28(55), 061-080. https://doi.org/10.55028/papeis.v28i55.21148