Por uma ciência sucessora ecofeminista: uma crítica da dicotomia aparência-realidade subjacente
Resumo
Neste artigo percorro um caminho pela História da Filosofia que parte do poema de Parmênides e vai até a Revolução Científica dos Séculos XVI e XVII, com o objetivo de expor algumas etapas fundamentais do processo que levou à supervalorização daquelas metodologias de pesquisa científica que Hugh Lacey denominou “estratégias descontextualizadas”. Ao fazer isto, revisito a temática feyerabendiana da crítica à busca ocidental por uma realidade subjacente distinta das aparências, trazendo-a para o contexto da crítica feminista contemporânea da ciência, que tem denunciado as hierarquias de valor e correspondentes formas de dominação ensejadas pelo pensamento dicotómico, aquele que traduz a complexidade do mundo em pares de opostos como razão e sentimento, cultura e natureza, sujeito e objeto, heterossexual e homossexual, homem e mulher ou, no caso de que tratarei aqui, realidade subjacente e aparência sensível. Defendo que a busca por um conhecimento universalizante expresso em leis, com a correspondente desvalorização epistêmica da singularidade irredutível da experiência sensível, se mostrou muito eficaz para o controle e a mercantilização da natureza, mas é incompatível com uma ciência sucessora ecofeminista capaz de regenerar o planeta e proporcionar melhores condições de vida para todas as pessoas e animais que nele habitam.
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