Pensamento Computacional e sua identidade conceitual no pós-BNCC

Uma análise crítica das ambiguidades persistentes

Palavras-chave: Pensamento Computacional, Conceituação, Ensino de Computação, Educação Básica, Wing (2006)

Resumo

A inclusão do Pensamento Computacional (PC) como competência obrigatória na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) Computação em 2022 consolidou sua presença no currículo da Educação Básica brasileira. No entanto, a consolidação conceitual do PC ainda enfrenta desafios significativos, especialmente no campo da formação docente e da produção acadêmica. Este artigo analisa criticamente oito documentos, entre artigos científicos e materiais educacionais, publicados após a publicação da BNCC Computação, com o objetivo de identificar padrões recorrentes de ambiguidade conceitual e uso indevido do termo. A metodologia adotada foi qualitativa, com abordagem crítica-documental e análise epistemológica. Os resultados indicam que muitos dos documentos analisados apresentam definições vagas, apropriações metafóricas ou interpretações imprecisas do conceito de PC, frequentemente baseadas em leituras acríticas da definição inaugural de Wing (2006). Identificaram-se também exemplos de uso do conceito como rótulo genérico, dissociado de critérios técnicos mínimos, como a necessidade de estruturação lógica, representações formalizáveis e potencial de execução computacional. A análise evidencia o risco de diluição do conceito no campo educacional, comprometendo sua aplicação curricular e a formação docente. Como alternativa, propõe-se uma reconstrução conceitual ancorada em três princípios: clareza epistemológica, fidelidade técnica e sensibilidade didática. O artigo conclui com diretrizes para definições educacionais mais precisas de PC, defendendo sua especificidade como competência computacional distinta e sua relevância pedagógica quando corretamente compreendida e aplicada. A contribuição desta análise está em reforçar a necessidade de rigor conceitual para garantir a efetividade do PC no contexto educacional brasileiro.

Biografia do Autor

Marcelo Magalhães Foohs, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil

Professor Titular do Departamento de Estudos Especializados da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Atua na área de informática na educação desde 1999. Seus interesses incluem: repositórios de objetos de aprendizagem, projeto e desenvolvimento de objetos educacionais, mídias na educação, jogos educativos, aprendizagem colaborativa apoiada por computador, teorias educacionais aplicadas às tecnologias de informação e comunicação, linguística aplicada à computação, inteligência artificial aplicada à educação e processos de aquisição da linguagem.

Randerson Oliveira Melville Rebouças, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil

Graduado em Sistemas de Informação pela Faculdade Estácio, com especialização em Engenharia de Sistemas e Mestrado em Informática em Saúde pela Universidade Federal de Santa Catarina. Atualmente cursa o doutorado em Informática na Educação (PPGIE/UFRGS), ocupa a posição de Gerente de Engenharia de Software na Geekie, atua como consultor de tecnologia na Engagers e é professor de tecnologia para cursos de graduação na UniSociesc em Blumenau. Com 15 anos de experiência na área de tecnologia, já atuou em empresas como Philips, Serasa, AmbevTech, MadeiraMadeira e Unico. Atuou também em projetos de inovação na UFCG, em parcerias com empresas como AOC, Compal e Motorola. Com experiência em desenvolvimento de software, DevOps e QA, tem se concentrado na gestão estratégica de times de tecnologia e na atuação como consultor em tecnologia. Sua trajetória profissional é marcada pela contribuição para a inovação e eficiência em projetos tecnológicos, sempre com um olhar atento para a diversidade e representatividade no ambiente de trabalho.

Júlia Paes Krüger, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil

Graduada em Licenciatura Plena em Ciências Biológicas pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) e Mestre em Microbiologia Agrícola e do Ambiente pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Durante o mestrado, investigou amebas de vida livre e bactérias resistentes, contribuindo para o entendimento das interações microbianas no ambiente e aprimorando sua capacidade de desenvolver estudos científicos. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Informática na Educação (UFRGS), onde sua pesquisa se concentra no impacto do pensamento computacional no desenvolvimento linguístico. Com uma abordagem inovadora, combina os princípios da metodologia Montessori e do ensino maker para propor metodologias educacionais que conectem tecnologia e práticas pedagógicas contemporâneas. Além disso, é licencianda em Computação e Robótica Educativa pela UFRGS e professora da Educação Básica em Ciências, Computação e Robótica, coordenando também a área da Computação da escola. Desde 2021, desenvolve projetos educacionais com Arduino e Lego, criando experiências de aprendizado criativas e envolventes. Também é uma das fundadoras do grupo Porto Hacker, que promove a democratização do ensino de computação e robótica para educadores e entusiastas.

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Publicado
2025-07-02
Como Citar
FOOHS, M. M.; REBOUÇAS, R. O. M.; KRÜGER, J. P. Pensamento Computacional e sua identidade conceitual no pós-BNCC. Revista Edutec - Educação, Tecnologias Digitais e Formação Docente, v. 5, n. 1, 2 jul. 2025.
Seção
Artigos Científicos