Educação, Memória e Gênero: contribuições de Norbert Elias
Resumo
A formação de meninos e meninas e o comportamento social destes, em geral, são direcionados pelo discurso médico e jurídico que determina a sexualidade conferida a partir de uma referência biológica. Tal referência é repassada por gerações e apresentada às crianças, apontando o modo como a sexualidade ocidental é construída. Este trabalho se insere numa pesquisa desenvolvida
no município de Dourados/MS, junto a instituições de Educação Infantil, tendo como foco as memórias de infância das professoras. Consideramos as mulheres, devido ao número majoritário de pessoas do sexo feminino na educação formal das crianças. Tais mulheres, ao contar suas histórias de infância, revelaram aspectos que permitem uma análise dos modos como se constroem as relações
de identidade de gênero e as relações de poder nas suas configurações sociais. Analisaremos, à luz das teorias de Elias, as diferentes figurações e espaços de poder vivenciados pelas mulheres na sua formação, considerando as relações estabelecidas em instituições como família, igreja e escola e seus processos sociais de organização. No decorrer da pesquisa, percebeu-se a presença de uma educação fundada na lógica heteronormativa, definindo diferenças sexuais para meninos e meninas e preocupada com o controle e autocontrole da sexualidade. O controle dos impulsos e das questões sexuais, exercido e veiculado na educação das crianças, indica uma “conspiração do silêncio”, conforme a expressão de Elias, nas relações entre adultos e crianças, explicando as
relações nesta sociedade.