“É uma menina!”: marcas da educação feminina e relações de gênero na família
Resumo
Pensar diferenças e desnaturalizar desigualdades se faz necessário, pois o caminho para conquista de relações de gênero equânimes é longo, com avanços e recuos no processo. Neste contexto, a proposta é trazer para o debate a educação feminina e as relações de gênero vivenciadas na família, figuração entendida a partir da teoria do processo civilizador como constituída por teias de interdependência. Assim, o objetivo foi identificar e problematizar relações de gênero que permearam a educação feminina presentes em histórias escritas por mulheres/acadêmicas de Pedagogia, da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), Mato Grosso do Sul. O corpus da pesquisa foi formado por 20 memoriais de infância (auto)biográficos, documentos do arquivo pessoal de professora da referida universidade. Utilizaram-se para análises o referencial teórico eliasiano, abordagem (auto)biográfica e estudos de gênero. Os resultados apontaram que meninas e meninos carregam marcas dos contextos os quais se originam, pois são dependentes do seu grupo familiar para se situarem no mundo. Evidenciou-se que a infância de meninas está condicionada a uma educação coercitiva e formas de submissão e controle estabelecidos a elas, que comparada à história dos meninos, sugere desequilíbrio entre os gêneros. Porém, as problematizações dão conta de processos de transformação em curso. Sendo assim, conclui-se, a família foi lembrada como figuração que marcou a vida das mulheres/acadêmicas, mas ao rememorarem suas infâncias podem ter compreendido que nas relações interdependentes elas são constituídas, mas também constituem tais relações. Portanto, a depender de suas posturas e ações será possível vivenciar tempos de maior equilíbrio da balança de poder.
Downloads
Referências
AMARAL, Maxwell da Silva. A marcha para o oeste e a colonização da fronteira sul do atual Mato Grosso do Sul: deslocamentos, políticas e desafios. Fronteiras: Revista de História | Dourados, MS | v. 16 | n. 28 | p. 153 - 165 | 2014. Disponível em: https://ojs.ufgd.edu.br/index.php/FRONTEIRAS/article/view/4549. Acesso em: 20 fev. 2021.
ALVES, Hildinéia; PESTANA, Marcela; MARQUES, Antonio Francisco. Gênero e Educação Infantil: entre princesas e príncipes há crianças que brincam e sonham. Perspectivas em Diálogo: Revista de educação e sociedade, Naviraí, v. 7, n. 14, p. 129-147, jan./jun. 2020. Disponível em: https://periodicos.ufms.br/index.php/persdia/article/view/9319. Acesso em: 23 fev. 2021.
BELLOTO, Heloísa Liberalli. Arquivos permanentes: tratamento documental. 4. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2015.
BITTAR, Marisa. Mato Grosso do Sul, a construção de um estado. v. 1: Regionalismo e divisionismo no sul de Mato Grosso. Campo Grande: Ed. UFMS, 2009a.
BITTAR, Marisa. Mato Grosso do Sul, a construção de um estado. v. 2: Poder político e elites dirigentes sul-mato-grossenses. Campo Grande: Ed. UFMS, 2009b.
BUENO, Belmira Oliveira. O método autobiográfico e os estudos com histórias de vida de professores: a questão da subjetividade. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.28, n .1, p. 11-30, jan./jun. 2002. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/ep/v28n1/11653.pdf. Acesso em: 09 nov. 2017.
BRASIL. Lei no 8.159, de 8 de janeiro de 1991. Dispõe sobre a política nacional de arquivos públicos e privados e dá outras providências. Brasília, 1991. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8159.htm. Acesso em: 26 out. 2017.
CAMPOS, Míria Izabel. Tempos de Escritas: memoriais de infância, docência e gênero. 188f. Tese (Doutorado em Educação) - Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD). Dourados, MS, 2018.
CHIAVENATTO, Júlio José. O golpe de 64 e a ditadura militar. São Paulo, SP: Moderna, 1995.
COLLING, Ana Maria. Tempos diferentes, discursos iguais: a construção histórica do corpo feminino. Dourados, MS: Ed. UFGD, 2014.
CUNHA, Maria Tereza Santos. O arquivo pessoal do professor catarinense Elpídio Barbosa (1909-1966): do traçado manual ao registro digital. Hist. Educ. (Online), Porto Alegre v. 21 n. 51 jan./abr., 2017. p. 187-206. Disponível em: https://www.redalyc.org/pdf/3216/321648890010.pdf. Acesso em: 09 jun. 2016.
DUCROT, Ariane. A classificação dos arquivos pessoais e familiares. FGV. Estudos Históricos, n. 21, p. 151-168, 1998. Disponível em: https://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/reh/article/view/2059. Acesso em: Acesso em: 26 out. 2017.
ELIAS, Norbert. A Sociedade dos indivíduos. Organizado por Michael Schröter. Tradução Vera Ribeiro. Revisão técnica e notas Renato Janine Ribeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 1994.
ELIAS, Norbert. Norbert Elias por ele mesmo. Tradução André Telles. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.
ELIAS, Norbert. Introdução à sociologia. Reimp. - (Biblioteca 70; 16). Biblioteca Nacional de Portugal - Catalogação na Publicação, 2008.
ELIAS, Norbert. O processo civilizador: uma história dos costumes. Volume 1. 2. ed. Tradução Ruy Jungmann. Revisão e apresentação Renato Janine Ribeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 2011.
ELIAS, Norbert. A civilização dos pais. Revista Sociedade e Estado, v. 27, n. 3, p. 469-493, set./dez. 2012. Disponível em: https://www.scielo.br/j/se/a/d8cs7Bb6zx8n83kgYdP7kRH/?lang=pt. Acesso em: 12 nov. 2016.
ELIAS, Norbert. A mudança na relação de poder entre os sexos - um estudo sociológico processual: o exemplo do Antigo Estado Romano. Tradução: Ana Flávia Braun Vieira (UEPG). In: VIEIRA, Ana Flavia Braun. FREITAS JUNIOR, Miguel Archanjo de (Orgs.). Norbert Elias em debate: usos e possibilidades de pesquisa no Brasil. Ponta Grossa/PR: Texto e Contexto, 2020. (Coleção Singularis, v.6).
FERREIRA, Jorge; GOMES, Angela de Castro. 1964: o golpe que derrubou um presidente, pôs fim ao regime democrático e instituiu a ditadura no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2014.
JOSSO, Marie-Christine. Histórias de vida e formação: suas funcionalidades em pesquisa, formação e práticas sociais. Revista Brasileira de Pesquisa (Auto)Biográfica, Salvador, v. 05, n. 13, p. 40-54, jan./abr. 2020. Disponível em: https://www.revistas.uneb.br/index.php/rbpab/article/view/8423/5390. Acesso em: 13 jun. de 2020.
MATO GROSSO DO SUL. Feminicídio: Relatório Estatístico do Poder Judiciário. Coordenadoria Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar. Documento do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul. Campo Grande/MS Disponível em: https://www5.tjms.jus.br/_estaticos_/sc/publicacoes/relatorio-feminicidio-2019.pdf. Acesso em: 02 fev. 2021.
OLIVEIRA, Benícia Couto de. O Estado Novo e a nacionalização das fronteiras: a ocupação estratégica do Sul de Mato Grosso. Fronteiras: Revista de História. Dourados, 2002. Disponível em: https://ojs.ufgd.edu.br/index.php/FRONTEIRAS/article/view/13458. Acesso em: 20 fev. 2021.
PASSEGGI, Maria da Conceição; SOUZA, Elizeu Clementino; VICENTINI, Paula Perin. Entre a vida e a formação: pesquisa (auto)biográfica, docência e profissionalização. Educação em Revista | Belo Horizonte, v. 27, n. 1, p. 369-386, abr. 2011. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-46982011000100017&script=sci_abstract&tlng=pt. Acesso em: 01 nov. 2017.
RIBEIRO, Luci Silva. Processo e figuração: um estudo sobre a sociologia de Norbert Elias. 2010. 281 f. Tese (Doutorado em Sociologia) ‒ Universidade Estadual de Campinas. Campinas/SP, 2010.
SARAT, Magda; CAMPOS, Míria Izabel. Gênero, sexualidade e infância: (Con)formando meninas. Revista Tempos e Espaços em Educação. v. 7, n. 12, jan./abr. 2014. Disponível em: https://seer.ufs.br/index.php/revtee/article/view/2951. Acesso em: 11 jul. 2016.
SCOTT, Joan W. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação & Realidade, v. 2 n. 16, p. 5-22, julho/dezembro. 1995. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/index.php/educacaoerealidade/article/view/71721. Acesso em: 02 jul. 2017.
SETTON, Maria da Graça Jacintho. Marcel Mauss e Norbert Elias: notas para uma aproximação epistemológica. Educ. Soc., Campinas, v. 34, n. 122, p. 195-210, jan./mar. 2013. Disponível em: http://www.cedes.unicamp.br. Acesso em: 12 jan. 2016.
SILVA, Marcos. Brasil, 1964/1968: a ditadura já era ditadura. São Paulo, SP: LCT, 2006.
SOUZA, Elizeu Clementino. A arte de contar e trocar experiências: reflexões teórico-metodológicas sobre história de vida em formação. Revista Educação em Questão, Natal, v. 25, nº 11, p. 22-39, jan/abr, 2006. Disponível em: https://periodicos.ufrn.br/educacaoemquestao/article/view/8285. Acesso em: 10 abr. 2017.
VEIGA, Cynthia Greive. O processo escolarizador da infância em Minas Gerais (1835-1906): geração, gênero, classe social e etnia. In: OLIVEIRA, Lindamir C. V.; SARAT, Magda (Orgs.). Educação infantil: história e gestão educacional. Dourados/MS: Editora da UFGD, 2009.
VEIGA, Cynthia Greive. Pensando com Elias as relações entre Sociologia e a História da Educação. In: FARIA FILHO, Luciano Mendes (Org.). Pensadores sociais e História da Educação. 3. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2011, p.139-166.
FONTES CITADAS
Memorial de infância, 2013/1, Dourados - nascimento 1985.
Memorial de infância, 2013/3, Dourados - nascimento 1989.
Memorial de infância, 2013/5, Dourados - nascimento 1995.
Memorial de infância, 2014/1, Caarapó - nascimento 1980.
Memorial de infância, 2014/3, Dourados - nascimento 1982.
Memorial de infância, 2014/4, Fátima do Sul - nascimento 1988.
Memorial de infância, 2016/1, Dourados - nascimento 1990.
Memorial de infância, 2016/2, Dourados - nascimento 1994.
Memorial de infância, 2016/4, Fátima do Sul - nascimento 1996.
Copyright (c) 2021 Perspectivas em Diálogo: revista de educação e sociedade
This work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.