Reflexões sobre o armário: tramas, resistências e (in)visibilidades

Abstract

O presente artigo objetiva trazer à tona um debate introdutório em relação às questões político-acadêmicas que permeiam as discussões relativas ao armário entre pesquisadores. Neste estudo, o armário é compreendido enquanto um mecanismo de regularidade de vidas LGBTQIA+, um dispositivo epistemológico que forja constantes fluxos e tramas de privilégios, visibilidade e hegemonia de valores às pessoas cis e heterossexuais. Uma estrutura regulatória de nível individual e coletivo, não apenas das dissidências de gêneros e das sexualidades, que define modos de sociabilidade público-privado, ancoradas no binarismo homo/hétero e na heteronormatividade compulsória; além de produzir regimes históricos de (in)visibilidades que vão adquirindo novas configurações de um contexto para outro e forjando sistemas micro e macropolíticos cujas diretrizes podem mudar entre pessoas que nele vivem e resistem às opressões, violências e atos discriminatórios. O estudo traz enquanto norte metodológico, a revisão bibliográfica da literatura acerca do tema, tendo como base de análise diferentes marcadores sociais da diferença para se refletir sobre o armário. Como principais reflexões podemos afirmar que muitos estudiosos vislumbram o armário enquanto racialmente não-marcado, refletido apenas pelo olhar do gênero e da orientação afetivo-sexual; que esse dispositivo não produz apenas opressão e sofrimentos, uma vez que, o armário também se faz trincheira, abrigo, para muitas/os que nele habitam, se resguardam ou se movimentam entre o entrar e sair, vice-versa. Por fim, cumpre dizer, que ele é um conceito guarda-chuva, capaz de abarcar e/ou aglutinar uma multiplicidade de experiências de vida, de modos distintos, entre diferentes pessoas que nele vivem, um mecanismo capaz de regular o controle de vidas, inclusive LGBTQIA+, mesmo depois de terem se assumido, e construir para elas diretrizes conectadas a trajetória de vida de cada qual sobre as sexualidades.

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Author Biographies

Robson Aparecido da Costa Silva, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

Doutorando pelo Programa de Pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Mestre em Psicologia pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Psicólogo e Pesquisador vinculado ao Núcleo de Direitos Humanos e Cidadania LGBT (Nuh/UFMG) e ao Núcleo de Estudos em Diversidade e Política (EDIS/UFAL); integrante dos Grupos de Pesquisa em Relações de Gênero Sexualidade e Saúde (DADÁ/UFRPE-UAST) e em Artes, Culturas Contemporâneas e outras Epistemologias (MACONDO/UFRPE-UAST).

Marcos Ribeiro Mesquita, Universidade Federal de Alagoas (UFAL)

Doutor em Psicologia Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Mestre em Sociologia Política pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Professor dos cursos de graduação e pós-graduação da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Maceió. Coordenador do Núcleo de Estudos em Diversidade e Política (EDIS).

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Published
2025-01-02
How to Cite
Silva, R. A. da C., & Mesquita, M. R. (2025). Reflexões sobre o armário: tramas, resistências e (in)visibilidades. Perspectivas Em Diálogo: Revista De Educação E Sociedade, 12(30), 16-31. https://doi.org/10.55028/pdres.v11i28.20473