Reflexões sobre o armário: tramas, resistências e (in)visibilidades
Resumo
O presente artigo objetiva trazer à tona um debate introdutório em relação às questões político-acadêmicas que permeiam as discussões relativas ao armário entre pesquisadores. Neste estudo, o armário é compreendido enquanto um mecanismo de regularidade de vidas LGBTQIA+, um dispositivo epistemológico que forja constantes fluxos e tramas de privilégios, visibilidade e hegemonia de valores às pessoas cis e heterossexuais. Uma estrutura regulatória de nível individual e coletivo, não apenas das dissidências de gêneros e das sexualidades, que define modos de sociabilidade público-privado, ancoradas no binarismo homo/hétero e na heteronormatividade compulsória; além de produzir regimes históricos de (in)visibilidades que vão adquirindo novas configurações de um contexto para outro e forjando sistemas micro e macropolíticos cujas diretrizes podem mudar entre pessoas que nele vivem e resistem às opressões, violências e atos discriminatórios. O estudo traz enquanto norte metodológico, a revisão bibliográfica da literatura acerca do tema, tendo como base de análise diferentes marcadores sociais da diferença para se refletir sobre o armário. Como principais reflexões podemos afirmar que muitos estudiosos vislumbram o armário enquanto racialmente não-marcado, refletido apenas pelo olhar do gênero e da orientação afetivo-sexual; que esse dispositivo não produz apenas opressão e sofrimentos, uma vez que, o armário também se faz trincheira, abrigo, para muitas/os que nele habitam, se resguardam ou se movimentam entre o entrar e sair, vice-versa. Por fim, cumpre dizer, que ele é um conceito guarda-chuva, capaz de abarcar e/ou aglutinar uma multiplicidade de experiências de vida, de modos distintos, entre diferentes pessoas que nele vivem, um mecanismo capaz de regular o controle de vidas, inclusive LGBTQIA+, mesmo depois de terem se assumido, e construir para elas diretrizes conectadas a trajetória de vida de cada qual sobre as sexualidades.
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