A lógica algorítmica e a questão do poder: uma reflexão a partir de Foucault

Resumo

Considerando a presença marcante das tecnologias computacionais no cotidiano das pessoas e o modo como influenciam a aquisição de hábitos na atualidade, este escrito se propõe a analisar, a partir de Foucault (1987; 2008; 2015), o modo de operação do poder através das tecnologias. Para isso, tomamos os conceitos foucaultianos de poder e dispositivo. O primeiro enquanto uma operação implicada e exercida em todas as faces da sociedade, atravessada por um cálculo que tem fins e objetivos específicos, e o segundo, como um aparato, uma rede, que gerencia e faz parte do acontecimento, cuja dimensão teria uma função estratégica dominante. Considera-se que as ferramentas de cálculo computacionais, os algoritmos, influenciam o modo como os usuários navegam na web. Por meio do extrativismo de dados, os algoritmos podem personalizar a experiência dos usuários, promovendo o consumo e o fornecimento voluntário de dados. A ideia de poder pastoral enquanto condução do coletivo e do individual, ao mesmo tempo e numa determinada direção, e a de panoptismo como estratégia de vigilância, parecem apropriadas para considerar uma prática de governo, de direcionamento, via algoritmos. A partir disso, consideramos que as tecnologias digitais compõem uma nova instância de poder acoplada aos discursos neoliberais, que produzem uma sensação de redução entre aquele que detém o poder e quem está submetido a ele, fazendo o sujeito operar o poder sobre si mesmo. Por fim, propomos pensar lutas e resistências enquanto modos de contra condutas a esta forma de governo.

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Biografia do Autor

Mariana Calonego, Universidade Federal de São Carlos - campus Sorocaba

É mestranda do Programa de Pós-Graduação Estudos da Condição Humana (PPGECH) da UFSCar Sorocaba. Possui graduação em Psicologia pelo Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio (2014) e especialização em Atendimento Interdisciplinar Preventivo na Primeira Infância pela UNICAMP (2020). Atualmente é psicóloga clínica e institucional. Tem experiência na área de Psicologia, com ênfase na infância, atuando principalmente nos seguintes temas: psicanálise, saúde mental, eletrônicos e educação.

Márcio Antônio Gatti, Universidade Federal de São Carlos - campus Sorocaba

É graduado em Letras pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp - 2004) e em Pedagogia pela Universidade Iguaçu (UNIG - 2012), mestre (2007) e doutor (2013) em Linguística pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). É Professor Adjunto no Departamento de Ciências Humanas e Educação (DCHE) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) - Campus de Sorocaba. Foi Vice-chefe (2015-2017) e Chefe (2017-2019) do Departamento de Ciências Humanas e Educação, Vice-diretor Educacional da Rede Municipal de Campinas (2013 a 2014) e Professor de Educação Básica II da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo (2004 a 2014). Tem experiência na área de Linguística, com ênfase em Análise do Discurso e em análise do discurso humorístico. Interessa-se pelo discurso humorístico veiculado na Internet e pelo funcionamento das mídias digitais e redes sociais. É membro do Grupo de Pesquisa Fórmulas e Estereótipos, Teoria e Análise (FEsTA) - Unicamp e do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Tecnologia, Cultura e Sociedade - UFSCar. Atualmente é docente permanente e Vice-coordenador do Programa de Pós-graduação em Estudos da Condição Humana (PPGECH) do campus Sorocaba da UFSCar.

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Publicado
2022-11-11
Como Citar
Calonego, M., & Antônio Gatti, M. (2022). A lógica algorítmica e a questão do poder: uma reflexão a partir de Foucault . Perspectivas Em Diálogo: Revista De Educação E Sociedade, 9(21), 184-195. https://doi.org/10.55028/pdres.v9i21.15869